quarta-feira, 14 de novembro de 2018


14 DE NOVEMBRO DE 2018
FÁBIO PRIKLADNICKI

CONVIVER NO TEATRO


Conheço gente que evita o cinema. Não digo a arte do cinema, que todo mundo ama, mas a sala de cinema. Gente que prefere ficar vendo filme em casa, sabe como é, Netflix e tal. Tento falar da telona, do som surround, da poltrona reclinável, mas nada. Essa gente tem um argumento igualmente bom, que nos lembra Sartre: os outros, os outros são um inferno. Pessoas conversando durante a sessão, consultando o celular, comendo pipoca da forma mais barulhenta possível e por aí vai.

Mas e quanto ao teatro? Teatro não tem jeito, você tem que ir lá ver. Existe teatro gravado para assistir em casa, mas, convenhamos, não é a mesma coisa. É mais uma lembrança ou material de estudo. Porque teatro é o que acontece ao vivo. Boa parte da teoria do teatro é baseada na magia que ocorre nesse encontro entre espectadores e artistas.

Quero deixar claro que o teatro, para mim, assim como o cinema, vale a pena ser fruído de galera. Não quer dizer que todo mundo na plateia tenha a mesma etiqueta. Longe de mim querer impor código de conduta, mas noções de boa convivência são fundamentais.

As poltronas de algumas salas são especialmente suscetíveis a chutes de quem senta atrás. Pode não ser chute, mas um pé embalado pela síndrome de perna inquieta fazendo chacoalhar sua poltrona e causando náuseas. Sim, acontece. A experiência mostra que as poltronas da ponta são mais afetadas, pois o sujeito que está atrás pode espraiar a perna para o corredor, aumentando a chance de lhe atingir. Nada como sustentar um argumento com dados empíricos.

Pessoas que consultam o celular durante o espetáculo são cada vez mais comuns. Às vezes não é apenas uma consulta, mas um verdadeiro engajamento em rede social. Algumas pessoas têm dificuldade em viver o aqui e agora. Mas a experiência também mostra que, em geral, basta explicar respeitosamente o incômodo que a pessoa fica constrangida e guarda o dispositivo.

Acontece que a maioria das pessoas em uma sala de espetáculo são educadas demais para pedir que alguém pare de incomodar. Grandes mudanças no mundo e no teatro acontecem quando um visionário corajoso resolve tomar uma atitude. Boa sorte.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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