sexta-feira, 1 de março de 2024


01/03/2024
Jaime Cimenti

Palavras, tradução e poder

Babel ou a necessidade de violência:  um mundo onde quem domina as palavras detém o poder

Babel ou a necessidade de violência: uma história arcana da revolução dos tradutores de Oxford (Editora Intrínseca, 352 páginas, R$ 99,90, tradução de Marina Vargas), de R.F. Kuang, premiada escritora e tradutora de mandarim, romance vencedor dos prêmios Nebula e Locus, imagina um mundo onde quem domina as palavras detém o poder.

A autora é um fenômeno no TikTok, com mais de 40 milhões de visualizações, e ficou famosa pela trilogia best-seller A Guerra da Papoula, que foi indicada a diversos prêmios, incluindo o Hugo e o de Yellowface.

Babel mostra brilhantemente, com uma trama avassaladora, a magia da tradução e o uso das palavras como instrumento de poder. A obra revisita e reescreve a Revolução Industrial na Inglaterra e a história colonial da China na década de 1830. A obra tem forte inspiração na dark academia, estética que une culto ao conhecimento acadêmico e estilo vintage.

Um menino inglês é levado a Londres pelo misterioso professor Richard Lovell após perder sua família para o cólera. Ele recebe o nome de Robin Swift e é rigorosamente treinado em vários idiomas para ingressar no prestigiado Real Instituto de Tradução da Universidade de Oxford, conhecida como Babel. Lá são gravadas barras de prata, que, associadas ao poder das palavras, se tornam de alto valor e essenciais ao funcionamento das grandes cidades.

Robin tem sonhos, mas logo vai passar por um grande dilema: ou continua se encaixando com sua nova vida ou se manterá fiel a sua identidade de menino pobre de Cantão.

A densa narrativa de Babel aborda temas atemporais como racismo, machismo e a xenofobia e traz reflexões sobre amizade, pertencimento e individualidade ao retratar o encontro de Robin, Victoire, Ramy e Letty, colegas e amigos que tentam se unir, mas se veem atravessados por segredos perigosos e divergências irreconciliáveis.

A obra se relaciona com nossos dias atuais na medida em que uma questão vital aparece: existe revolução sem violência?

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