segunda-feira, 2 de setembro de 2019



02 DE SETEMBRO DE 2019
OPINIÃO

Os militares tinham razão

Houve um tempo em que a preocupação de setores do Exército com a soberania brasileira sobre a Amazônia era motivo de deboche. Delírios, paranoia, devaneio. Essas eram as palavras.

Lembro da história de um suposto livro didático americano com um mapa dos Estados Unidos que incluía a nossa floresta tropical. Mea-culpa. Movimentos recentes no tabuleiro da geopolítica planetária apontam na direção indicada lá atrás.

Em 2017, um general da cúpula do Exército brasileiro revelou, durante uma palestra fechada, em Porto Alegre, o interesse dos chineses em cursos sobre combate em florestas tropicais. Não há nenhuma por lá. Nossas Forças Armadas, pelo que sei, agradeceram o convite para organizar e ministrar o treinamento, mas pularam fora.

Da biopirataria à pregação religiosa e à conversão dos povos da floresta por seitas exóticas e estrangeiras, a Amazônia, não é de hoje, transformou-se em uma região tensionada. Mais um tempero no caldo: o Vaticano convocou para outubro uma grande reunião mundial para debater o assunto. A realização do sínodo provocou imediata reação do governo Bolsonaro, preocupado com a ingerência externa nesse tema, que considera de segurança nacional.

De fato, simbolicamente, a Amazônia já queima há muito tempo. Pelo menos, a fumaça que se vê agora chamou a atenção para o fogo. No meio das labaredas, há mais incendiários do que bombeiros. Nada como um grande problema para legitimar grandes soluções. É da estratégia básica da gestão dos conflitos. Demonize o adversário, desumanize o inimigo. Depois o destrua, porque aí as reações serão brandas.

De fato, há pouca gente efetivamente preocupada com a Amazônia. Os argumentos verdadeiros dessa defesa contrariam as teses raivosas e oportunistas submetidas à opinião pública. Os ativistas de plantão adoram causas que já vêm mastigadas e simplificadas. Basta colar o rótulo e sair pelas ruas de Paris protestando. Precisamos de menos cartazes com frases de efeito e de mais reflexão positiva e racional.

A Amazônia tem uma papel global, que impacta todo o planeta. Por isso, é legítimo e importante que todos cuidem dela e participem desse esforço de preservação, que passa pelo uso sustentável dos recursos. A Amazônia é nossa e nós somos todos. Franceses, etíopes, sauditas, vietnamitas e neozelandeses também são, de certa forma, mesmo que não saibam, povos da floresta. Em vez de cortar recursos, deveriam é investir mais. Enquanto há tempo. Da nossa parte, a discussão sobre soberania só faz sentido se precedida de ações concretas de preservação - diferente de congelamento e paralisia. Soberania para quê?, é a pergunta que a tudo precede.

Pode parecer viagem, mas estamos preparando a nossa partida da Terra. Hoje, alguns dos homens mais ricos do mundo investem bilhões na corrida espacial, antes restrita a governos. De Elon Musk, da Tesla, a Jeff Bezos, da Amazon. A mudança não é para tão cedo e, até lá, precisamos cuidar da casa onde moramos. Não se trata de ser bonzinho ou malvado, de esquerda ou de direita, bolsonarista ou petista. É puro bom senso.

Por falar nisso, sabe o bioma Pampa?

David Coimbra volta a escrever na quinta-feira. - TULIO MILMANN INTERINO

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