sexta-feira, 1 de dezembro de 2017


Notícia da edição impressa de 01/12/2017. Alterada em 30/11 às 16h02min 


Diálogo e ética da conversação Detalhe da capa do livro REPRODUÇÃO/JC Filosofia da afirmação e da negação (É Realizações, 320 páginas, R$ 49,90), do escritor e pensador Mário Ferreira dos Santos (1907-1968), em síntese, abordando temas como o ceticismo, o relativismo, a verdade, a coragem, Deus, matéria, criação, Platão, Kant e Pitágoras, apresenta um panorama completo da obra do filósofo nascido em Tietê, estado de São Paulo, e que passou a infância e a adolescência na gaúcha Pelotas. 

Licenciou-se em Direito e Ciências Sociais pela Ufrgs, mudou-se para São Paulo, onde fundou duas editoras. Publicou a conhecida Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais, com 45 volumes e vários outros livros, como Filosofia Concreta e Métodos lógicos e dialéticos. 

Filosofia da afirmação e da negação apresenta, em forma de diálogos fictícios, uma ética da conversação, que faz muita falta em nossos dias belicosos. Escreve o autor: "Creio no diálogo, quando bem conduzido, e sob regras rigorosas. O homem de hoje não sabe mais conversar. Ele disputa apenas. É um combate em que os golpes mais diversos e inesperados surgem. Mas num diálogo, conduzido em ordem, tal não acontece. Deixa de ser um combate para ser uma comparação de ideias. 

Um sentido culto domina aí. Não é mais o bárbaro lutador, mas o homem culto que se enfrenta com outro, amantes ambos da verdade, em busca de algo que permita compreender melhor as coisas do mundo e de si mesmo". Os diálogos da obra acreditam que o brasileiro tem ótimas condições para uma filosofia plural e ecumênica, e por isso o autor nos transporta os personagens dos diálogos para linguagens e cenários propriamente brasileiros, para tratar de problemas universais. 

Com sua grande capacidade analítica, o autor apresenta "homens da tarde, da noite e da madrugada", dialogando de forma clara e positiva sobre temas antigos e novos, que serviram para o projeto de Santos, que era o de criar um público brasileiro para o estudo da filosofia. "Temos que sair à rua, como outrora o fez Sócrates, para denunciar os falsos sábios", escreve o autor. Pena que Santos não esteja mais entre nós, para estimular o sentido mais profundo do verdadeiro diálogo, que anda escasso nesses tempos de monólogos, vaidades e egos gigantes. 

lançamentos 

A saúde dos ventos - Parte 2 (BesouroBox, 296 páginas) do professor, médico e escritor Waldomiro Manfroi, apresenta a sequência do diário do fictício prof. Humberto Leivas. Passagens da história rio-grandense, os elos relacionados à convivência possível entre medicina, positivismo, farmácia e odontologia no RS, os estudantes de Medicina e a gripe espanhola, e o apoteótico funeral do professor Sarmento Leite estão na narrativa bem elaborada e fluente. 

Arquitecrônicas (Libretos, 182 páginas), do arquiteto, professor universitário, cronista e compositor Cesar Dorfman, com apresentação do jornalista e escritor Rafael Guimaraens, apresenta crônicas e histórias com personagens e situações singulares. Dorfman não perde a piada nem o amigo, fala das vicissitudes da profissão de arquiteto e dos desejos e sonhos das pessoas, que são a matéria-prima da arquitetura. 

René Thiollier - Obra e vida do grão-senhor da Villa Fortunata e da Academia Paulista de Letras (Ateliê Editorial, 272 páginas), do professor Valter Cesar Pinheiro, da Universidade Federal de Sergipe, fala do homem que, junto com Mario de Andrade e Oswald de Andrade, compôs a trinca seletíssima que promoveu a Semana de Arte Moderna de 1922 e a Viagem a Minas em 1924. Thiollier foi cronista, jornalista e escritor, e este livro trata com profundidade de sua obra literária.

Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/11/colunas/livros/598810-dialogo-e-etica-da-conversacao.html)

Nenhum comentário: