16 DE DEZEMBRO DE 2017
RBS BRASÍLIA
REFORMA DA PREVIDÊNCIA VIROU CONSTRANGIMENTO
Nem os aliados mais fiéis ao governo estão gostando da história de desfigurar o pouco que sobrou da reforma da Previdência, só para conseguir votar alguma coisa no início do próximo ano. Defensor da proposta desde que o primeiro projeto foi apresentado, o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) não considera uma boa ideia sucumbir à pressão das corporações, mantendo privilégios de servidores públicos.
Ele é contra assegurar melhores condições para garantir paridade e integralidade. Afinal, deputados que colocaram em risco a própria imagem defendendo o governo neste debate impopular compraram o discurso e espalharam por aí que a ideia era acabar com as benesses. Sobrará o que da tal reforma? Será que o trabalhador do regime geral vai pagar mais uma vez o pato sozinho? Quem não manipula os números sabe que proporcionalmente o principal rombo da Previdência está no setor público, incluindo a situação dos Estados.
Votar um arremedo de reforma da Previdência não vai resolver o problema da política econômica e só vai contribuir para esvaziar a importância do assunto na campanha eleitoral. O próprio presidente Michel Temer, em discurso na posse do novo ministro Carlos Marun, reconheceu que a votação foi adiada para não "constranger os deputados". Nos bastidores, emissários do governo dispararam telefonemas a representantes de setor empresarial, pedindo para que a mobilização continue.
Mas em fevereiro, logo após o Carnaval, a dificuldade política continuará a mesma. Os deputados estarão ainda com menos apetite para encarar assuntos polêmicos. Fardado para concorrer às eleições de 2018, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) deu sinais de que pode sucumbir ao lobby do Judiciário. Mas se é para votar uma reforma de araque, o melhor é assumir que perdeu a briga e deixar o assunto para 2019.
GUILHERME BOULOS
Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
Assediado pelo PSOL, Guilherme Boulos ainda está analisando o convite do partido para ser candidato à Presidência da República em 2018. Ele reconhece que foi convidado, mas argumenta que ainda é cedo para esse debate. Coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, ele se prepara para desembarcar em Porto Alegre nos próximos dias para reuniões com lideranças políticas e integrantes do movimento. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Se Lula não conseguir concorrer à Presidência, qual o plano B dos movimentos de esquerda?
Não é possível naturalizar que o Judiciário defina o processo eleitoral no tapetão. O presidente Lula foi alvo de uma condenação sem provas e, agora, há um ato politizado do Judiciário.
Mas qual é o plano B?
É um debate que deve ser feito em 2018. Neste momento eu sou militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, da Frente Povo Sem Medo...
Isso quer dizer que estarão juntos nas eleições de 2018?
Não. Uma coisa é o debate programático, político e tal. Tenho diferenças em relação a uma série de posições do PT e do presidente Lula. Agora, defender o direito do Lula de ser candidato é uma questão democrática. Quem deveria julgar veste camiseta de partido, se juntou com a política.
Petistas se envolveram em processos de corrupção. Isso não compromete esse debate?
O PT no governo teve acertos e teve erros. Um dos erros importantes foi ter se aliado com os que há 500 anos mandam no Brasil. Isso deve ser combatido.
Mas o ex-presidente Lula está fechando acordos com políticos como o Renan Calheiros (PMDB- AL), Ciro Nogueira (PP- PI) e Eunício Oliveira (PMDB-CE)...
Eu sei disso. É inadmissível. Uma das lições do golpe é que esses segmentos que compõem a velha política de direita no Brasil se alinharam com um programa antipopular e antidemocrático. Tentar reconstruir alianças com esses setores é lamentável.
O senhor pretende se filiar ao PSOL e concorrer à Presidência da República?
Houve um convite. Eu tenho feito conversas com dirigentes do PSOL e há uma discussão em curso. Agora, a definição, nós não achamos que haja condições para se tomar neste ano.
A chegada do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) à Secretaria de Governo significa que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) começará 2018 com ainda mais poder na articulação política do Planalto. Marun ganhou um prêmio. Ele assume a função de costurar as relações do Palácio com o Congresso porque foi um homem fiel, quase um camicase.
Primeiro, defendeu o ex-presidente da Câmara - e hoje presidiário - Eduardo Cunha. Depois, ingressou na tropa de choque do presidente Michel Temer e ficou nacionalmente conhecido pela dancinha do enterro da segunda denúncia. Marun cantou e dançou uma paródia de "Tudo está no seu lugar", enfurecendo Benito de Paula, o autor da canção. O estilo truculento e impaciente do deputado, porém, não combina com as vicissitudes do cargo.
Ele assume o ministério no lugar de Antonio Imbassahy (PSDB-BA), o tucano que há muito estava escanteado no Palácio do Planalto. A missão ficou por conta do ministro Padilha, reconhecido pela oposição e por governistas como um cumpridor de acordos. Esse papel só será reforçado com a chegada de Marun, que pode ser leal, mas não tem o traquejo político necessário para a ingrata função. Indicado pela bancada do PMDB e próximo ao centrão, o próprio deputado assumiu dizendo que será um soldado do governo. E ele tem razão. TUDO ESTÁ NO SEU LUGAR?
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