05 DE DEZEMBRO DE 2017
ARTIGOS
DEMOCRACIA DOS FRACOS
Democracia é um nome estranho, paradoxal. Representa união e, ao mesmo tempo, diferenças. Não se trata de um conceito pronto, ao contrário, sua definição pressupõe conflitos e troca de ideias, a fim de proporcionar uma vida digna e sadia a todos. No entanto, quando os pressupostos do ambiente democrático são ignorados, ela assume os riscos de sua própria destruição. Ao invés de libertar, de emancipar, de empoderar e de oportunizar a autocrítica, aos poucos, consolida a sobrevida pelas exageradas ideologias, pelo autoengano.
Faz parte do jogo democrático a participação e o engajamento à convivência. Todavia, é necessário identificar quais são os limites desse jogo a fim de consolidar seus objetivos mais primários e não enaltecer ressentimentos capazes de fomentar a intolerância contra qualquer opinião divergente daquele que conquistou o poder e o exerce.
Em uma situação contrária, a apatia, a indiferença (patológica de nossos dias), tornam-se vetores de autofagia da democracia e ignoram as diferenças humanas e culturais. Por esse motivo, a sua essência vital, de seus significados, de seu sentido formal presente nas leis e instituições, de sua orientação como estrutura da paz e da liberdade reside na pluralidade de diferenças de valores, de culturas, de tribos urbanas ou indígenas, das vozes silentes e marginalizadas. Nem sempre o consenso democrático, ao determinar orientações comuns para que haja paz nas relações humanas, sintetiza a vontade de todos.
Nisso, percebe-se a sua incompletude. A indignação e a impaciência são valores caros ao aperfeiçoamento dos territórios democráticos. A primeira não se satisfaz com as misérias humanas. A segunda não aceita a passividade deste cenário a se repetir ano após ano. Todo agir livre nas democracias pressupõe responsabilidade e o enfrentamento daquilo que nos constrange, que põe em dúvida a moral pela avaliação ética. Afinal, a democracia dá vida e voz aos marginalizados, aos esquecidos, ou seja, a democracia inclui os fracos, os vulneráveis. Por esse motivo, precisa-se rememorar sempre: O que é democracia?
SÉRGIO RICARDO FERNANDES DE AQUINO
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