12 DE DEZEMBRO DE 2017
CARPINEJAR
Perigosa superproteção
Talvez um dos grandes dilemas da vida seja deixar o outro fazer. Aguentar o outro empreender algo que você domina bem, sem interferir, é uma proeza. Você vive reclamando de que realiza tudo sozinho em casa. Já cogitou a ideia de que você é que não cede espaço?
Você lava a louça todo dia porque não permite que ninguém se habilite. Você prepara a refeição todo dia porque não permite que ninguém tente. Você arruma a casa todo dia porque não permite que ninguém execute devagar e diferente.
Como você ama os filhos, às vezes quer ajudar e termina cumprindo as tarefas no lugar deles.
Não adotar a superproteção é difícil. A síndrome samaritana que aflige os pais surge quando as crianças começam a caminhar, a falar e comer sozinhas. Na verdade, você está apavorado com a hipótese de não ser mais necessário e carrega o bebê no colo quando ele pode caminhar, põe comida na boca quando ele já pode segurar a colher, responde por mímica quando ele já pode pronunciar as palavras.
Quando pensa por dois, pelos dois, não colabora para a independência de quem gosta.
Ajuda, por motivos nobres mas tortos, a formar pessoas vulneráveis, fragilizadas, despreparadas para a rotina. E o filho que julga que criou bem de repente não entende como é riscar um fósforo.
Existe uma hora virtuosa da incompetência, de suportar a bagunça, ficar de lado e aceitar que as pessoas aprendam na marra, dentro da sua solidão. Um momento de se ausentar para que os demais possam aparecer e se desenvolver. Mesmo que isso signifique que elas se deem mal. Mesmo que isso custe sofrimento e frustração.
O caso engloba, inclusive, os tratos entre marido e mulher. Há casais em que somente um trabalha, um dirige, um paga as contas, um organiza o futuro. E não vigora equilíbrio pela exclusividade de funções por um lado apenas do relacionamento.
É preciso combater a falta de amor e também o excesso de amor. Pois o amor escraviza. E o escravo é, estranhamente, aquele que não faz nada. Ou melhor, não pode fazer nada.
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