26 DE DEZEMBRO DE 2017
ECONOMIA
Está mais barato viver, como declarou Temer?
Presidente enalteceu resultados econômicos em pronunciamento na noite de Natal, mas análise da inflação mostra equívocos no discurso
Na noite de Natal, os brasileiros ouviram de Michel Temer que está mais barato comer, vestir e morar no Brasil. Em pronunciamento transmitido em cadeia de rádio e TV, o presidente exaltou números da lenta recuperação econômica observada em 2017, sem citar dados negativos, como o aumento do rombo das contas públicas. Preferiu ressaltar, em tom otimista, resultados que estariam sendo obtidos graças a sua gestão.
- O risco Brasil diminuiu e os investimentos estão de volta, a bolsa de valores registra alta após alta, o Produto Interno Bruto também. A safra agrícola quebra recordes, a inflação está abaixo do piso, a balança comercial atingiu um superávit histórico, a indústria e o comércio dão sinais claros de revitalização - enumerou antes de dedicar o espaço final da fala para defender mais uma vez a aprovação da reforma da Previdência.
Será que está realmente mais barato viver no Brasil, como disse o presidente? O público costuma reclamar que não sente o alívio de preços citado por Temer. Para tirar essa dúvida, vamos destrinchar o IPCA, indicador calculado pelo IBGE e que mede a variação nos gastos de uma família média brasileira.
detalhe zh
O arcebispo metropolitano, dom Jaime Spengler, criticou o pronunciamento de Natal de Michel Temer em entrevista ao Gaúcha Atualidade, ontem:
- Quem diz que a vida está mais barata não vive a realidade do nosso povo. A impressão que dá é de que vive em outra realidade. Olhando nossa situação de Porto Alegre, o número de moradores de ruas, o número de placas de vende-se e aluga-se, o comércio fechado, a vida parada, jovens sem perspectiva de um emprego digno.
O que mostra o IPCA
Está mais barato viver?
Olhando o IPCA acumulado de 12 meses, a inflação está em 2,94%. É baixa e fica abaixo do piso da meta do governo federal. No entanto, ainda aponta aumento de preços. Ou seja, não está mais barato, como disse Temer. Está, sim, aumentando menos o gasto de uma família padrão que se encaixa na metodologia do indicador.
Está mais barato comer?
Sim, está. Aqui, o presidente acerta. O grupo Alimentação e Bebidas, que engloba preços de alimentos para consumir em casa e também refeições na rua, acumula queda de 2,15%. É uma média, puxada bastante por alimentos in natura. A comida tem peso significativo no orçamento da família média brasileira e, portanto, também na metodologia do cálculo da inflação. Por isso, tem essa capacidade de segurar o índice apesar do aumento de outros itens importantes no orçamento.
Está mais barato vestir-se?
Não está. O grupo de despesa Vestuário acumula alta de 2,55% em 12 meses. Há variações sazonais, com quedas nas trocas de estação, por exemplo.
Está mais barato morar?
Também não, presidente. O grupo Habitação é destaque de alta, com elevação de 6,15% em 12 meses. Ou seja, mais do que o dobro da inflação média. Aqui, tem forte influência das contas de luz e do gás de cozinha.
E mais...
O presidente não falou, mas os grupos Saúde (+6,68%), Educação (+6,96) e Transportes (+4,31) também estão pressionando o bolso do consumidor. Há a disparada da gasolina, os reajustes assustadores dos planos de saúde e mesmo as mensalidades escolares com elevações superiores a 10%, ou seja, mais do que o triplo da inflação.
GIANE GUERRA
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