Retrospectiva 2017
Fazer retrospectivas, hoje, onde o presente é tudo, é meio retrô. Retrospectivas são mais velhas que andar a pé, a Sé de Braga e o big bang - se é que ele existiu. Mas é fim de ano, e mesmo com essas toneladas de fotos, frases, palavras, acontecimentos, aborrecimentos, alegrias, nascimentos, mortes, escândalos, delações, debates, controvérsias e bombas norte-coreanas, o cronista cumpre sua tarefa de biografar o cotidiano, ou, no caso, o ano. Biografia desautorizada. Uns chamam 2017 de ano de "extremos". Ano "intensíssimo" é mais adequado.
O que dizer do ano que começou com Trump e seu discurso "imprevisível", com Hollywood errando o anúncio do melhor filme e encerrando o secular "teste do sofá", pelos caras que tinham a árdua tarefa de "entrevistar" candidatas a estrelas. Meryl Streep atacou Trump e ele contra-atacou. A Time indicou como personalidade do ano as mulheres que denunciaram casos de assédio sexual. Uma corajosa denunciava e as outras iam atrás dizendo "me too".
Num ano considerado meio fraco, A Bela e a Fera e Mulher Maravilha, com protagonistas femininas, foram os filmes mais rentáveis e Star Wars - Os últimos Jedi faturou US$ 450 milhões no fim de semana da estreia. O show continua. Em janeiro, em um acidente aéreo, faleceu Teori Zavaski e algumas teorias a respeito até agora não estão comprovadas. Dizem que 2017 empoderou o indivíduo, ano de gritar por direitos humanos, protestos contra censuras e preconceitos, mas os Três Poderes, "independentes e harmônicos entre si", parecem mais empoderados que os cidadãos.
A política e a economia nos tontearam, com um ex-presidente condenado, o atual sob suspeita e os milhões de desempregados, mas a menor inflação dos últimos 19 anos e, quem sabe, este "descolamento" da economia da política nos ajude, enquanto a Lava Jato segue - já prendeu uns 100 meliantes. Poder Executivo tentando emplacar as próprias reformas, Poder Legislativo fracassado e conhecidos problemas com o Judiciário mostram que está difícil a melhora. Tomara não seja impossível.
Vamos ter esperança, não apenas esperar. Falo de flores em meio aos tumultos. De Porto Rico veio o refresco, Despacito, com seu ritmo ligeirinho, sua letra sugerindo sedução sem pressa e semanas em primeiro lugar nas paradas. Despacito lembra os sucessos La Bamba (1987) e Macarena (1996), e mostra que a música é a linguagem universal capaz de cosas buenas. Dela precisamos para seguir vivendo, sonhando e dançando. Hoje a galera quer dançar mais do que ouvir música, mas isso é outra história.
A separação da Catalunha, a renúncia do Tiririca, o ex-futuro-candidato Luciano Huck, a delação do fim do mundo que não acabou com o mundo e o anúncio de casamento de Meghan Markle, 36 anos, atriz, ativista, divorciada e de origem negra com o príncipe Harry, 33 anos, mostra um 2017 intenso. Henrique VIII, parente de Harry, ordenou a decapitação de um ancestral do pai de Meghan.
O que é a história, né?
a propósito...
No fim do ano, a gente fica pensando se o ano foi pior ou melhor que os outros. Faz a contabilidade e as tais retrospectivas de acontecimentos da rua e de dentro de casa. Normal. Mas como disse o poeta, o último dia do ano não é o último dia do tempo. O tempo.
O tempo passa, eterno como o ar, sem ligar muito para nós. Quem sabe a gente não se preocupa tanto com ele e vive os "momentos". Passadas as sagradas orgias natalinas e os embalos do Réveillon, o tempo será novo como o ano. Perder tempo, ganhar tempo. Matamos o tempo e o tempo nos enterra, disse Machado de Assis. Dizem que o tempo se vinga das coisas feitas sem a colaboração dele. Tempo ao tempo, tempo para nós. Feliz tempo novo para os queridos leitores!
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/12/colunas/livros/603822-um-homem-do-pampa.html)
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