Eliane
Cantanhêde
Poupar ou consumir?
BRASÍLIA
- Lula deu o passo seguinte da estabilidade econômica com inclusão social, mas
fez a alegria da "nova classe média" com crédito, geladeira, fogão e
carrinho novo -aspirações legítimas, mas imediatistas- e negligenciando
reformas estruturais que garantam desenvolvimento e bem-estar sustentáveis.
Dilma
vai adiante. Assegura a estabilidade e a inclusão, mas está conformada com as
oscilações dentro da meta de inflação -sem obsessão de atingir o centro- e dá o
choque na Selic e nos juros do BB e da CEF, forçando os bancos privados a irem
atrás, até por uma questão de mercado.
Além
de enfrentar os bancos e relevar a inflação, Dilma teve a coragem que faltou a
Lula para aprovar no Congresso o fundo de previdência privada para o
funcionalismo e anunciar ontem mudanças na caderneta de poupança -um dogma
nacional desde a heresia do confisco da era Collor-Zélia.
A
valentia de Dilma, porém, é apenas parte da história. É preciso conhecimento,
firmeza na implantação e uma calibragem fina dos efeitos da queda dos juros (que
só os bancos rejeitam) e da mudança na poupança (que todo mundo teme).
Um
dos maiores problemas do Brasil, segundo os especialistas, é a falta de poupança,
com o setor público gastando muito, a novidade do desaquecimento industrial e a
população alegremente empenhada num delicioso esporte: o consumismo.
Os
imóveis pela hora da morte, as Bolsas fraquejando, o Tesouro Direto e os fundos
minguando com a Selic e, agora, a boa e velha poupança perdendo embalo. Onde os
poupadores vão meter o seu rico dinheirinho nesses tempos de juros mais baixos
dos empréstimos e do cartão de crédito? No consumo? Em produtos chineses? Ou em
Miami?
Poupar
é preciso e inflação não é mais um bicho-papão, mas ainda morde. E o Congresso
vai levar isso em conta ao votar a MP no meio de uma CPI e da eleição municipal.
elianec@uol.com.br
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