sexta-feira, 4 de maio de 2012


Eliane Cantanhêde

Poupar ou consumir?

BRASÍLIA - Lula deu o passo seguinte da estabilidade econômica com inclusão social, mas fez a alegria da "nova classe média" com crédito, geladeira, fogão e carrinho novo -aspirações legítimas, mas imediatistas- e negligenciando reformas estruturais que garantam desenvolvimento e bem-estar sustentáveis.

Dilma vai adiante. Assegura a estabilidade e a inclusão, mas está conformada com as oscilações dentro da meta de inflação -sem obsessão de atingir o centro- e dá o choque na Selic e nos juros do BB e da CEF, forçando os bancos privados a irem atrás, até por uma questão de mercado.

Além de enfrentar os bancos e relevar a inflação, Dilma teve a coragem que faltou a Lula para aprovar no Congresso o fundo de previdência privada para o funcionalismo e anunciar ontem mudanças na caderneta de poupança -um dogma nacional desde a heresia do confisco da era Collor-Zélia.

A valentia de Dilma, porém, é apenas parte da história. É preciso conhecimento, firmeza na implantação e uma calibragem fina dos efeitos da queda dos juros (que só os bancos rejeitam) e da mudança na poupança (que todo mundo teme).

Um dos maiores problemas do Brasil, segundo os especialistas, é a falta de poupança, com o setor público gastando muito, a novidade do desaquecimento industrial e a população alegremente empenhada num delicioso esporte: o consumismo.

Os imóveis pela hora da morte, as Bolsas fraquejando, o Tesouro Direto e os fundos minguando com a Selic e, agora, a boa e velha poupança perdendo embalo. Onde os poupadores vão meter o seu rico dinheirinho nesses tempos de juros mais baixos dos empréstimos e do cartão de crédito? No consumo? Em produtos chineses? Ou em Miami?

Poupar é preciso e inflação não é mais um bicho-papão, mas ainda morde. E o Congresso vai levar isso em conta ao votar a MP no meio de uma CPI e da eleição municipal.

elianec@uol.com.br

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