NELSON
DE OLIVEIRA - ESPECIAL PARA A FOLHA
Escritor tem a audácia de levar
o amor romântico a sério em novo trabalho
O
LIVRO REPETE QUE VALORES SUFOCADOS PELO MODERNISMO PRECISAM SER REAVIVADOS
O
premiado Jeffrey Eugenides, autor de "As Virgens Suicidas" e "Middlesex",
arriscou-se bastante em seu terceiro romance. É preciso muita audácia para
levar o amor romântico a sério, sem ironizar nem zombar.
O
que poderia ser mais frívolo, hoje, do que uma história de 440 páginas sobre a
primeira paixão juvenil?
Eugenides
teve muita coragem, não há dúvida. Boa parte dessa coragem veio do prestígio
conquistado com o prêmio Pulitzer por "Middlesex" e a versão para o
cinema de "As Virgens Suicidas", pela cineasta Sofia Coppola.
"Larry
amava Mitchel, que amava Madeleine, que amava Bankhead." Assim o narrador
onisciente resume o conflito do novo livro.
Vamos
aos amantes: Madeleine Hanna é uma leitora voraz do romance vitoriano, Leonard
Bankhead é uma mente brilhante com psicose maníaco-depressiva, Mitchel
Grammaticus é um peregrino à procura de Deus e Larry Pleshette é um francófilo
que descobre a verdadeira orientação sexual durante um giro pela Europa.
Todos
são ex-alunos da Universidade Brown, onde se conheceram e onde, na vida real,
Eugenides estudou. Estamos nos início dos anos 80.
Os
autores prediletos de Madeleine são Jane Austen, George Eliot, as irmãs Brontë e
todos os que, no século 19, escreveram sobre o casamento, numa época em que "o
sucesso na vida dependia do casamento, e o casamento dependia de dinheiro".
Porém,
a teoria semiótica francesa está chegando com força total nas universidades
norte-americanas. A palavra de ordem é "desconstrução".
O
embate de Madeleine com os celerados Derrida, Baudrillard e Barthes renderam páginas
divertidíssimas. Dos três, salvou-se apenas Barthes, graças à sua criativa
defesa da "condição amorosa" nos "Fragmentos de um Discurso
Amoroso" (1977).
Em
sua ainda curta carreira, Eugenides publicou três romances muito distintos no
tom e no tema.
O
delicado e carinhoso "A Trama do Casamento" não é como o psicótico e
intimista "As Virgens Suicidas", que é muito diferente da saga
multigeracional "Middlesex".
Seu
novo romance repete, na linguagem e no enredo, a certeza da própria Madeleine
de que certos valores sufocados pelo modernismo precisam ser reavivados.
Se há
uma tese realizada em "A Trama do Casamento", ela é a mesma defendida
pelo teórico Tzvetan Todorov em seu mea-culpa "A Literatura em Perigo"
(2007).
Para
Todorov, no século 20 o culto estéril da teoria produziu ficções e poemas herméticos
e afastou os leitores.
Hoje
ele quer a literatura de volta à posição de destaque usurpada pela teoria:
"a literatura como na Europa até fins do século 19".
NELSON
DE OLIVEIRA é doutor em letras pela USP e autor de "Poeira: Demônios e
Maldições" (Língua Geral).
A
TRAMA DO CASAMENTO
AUTOR
Jeffrey Eugenides
TRADUÇÃO
Caetano W. Galindo
EDITORA
Companhia das Letras
QUANTO
R$ 46 (440 págs.)
AVALIAÇÃO
bom
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