sexta-feira, 4 de maio de 2012


Ruy Castro

Imposto a restituir

RIO DE JANEIRO - Diante do suplício por que passamos há dias para preencher o Imposto de Renda -uma ciência que o Ministério da Fazenda elevou à categoria de arte-, fico imaginando as piruetas do contador de Carlinhos Cachoeira para fazer a declaração do empresário. Pessoa física ou jurídica, não importa, deve ser a declaração mais complicada do Brasil.

É só ver com quantas pessoas e instituições Cachoeira fez negócios no ano fiscal de 2011. Em sua lista de beneficiários constam ministros de Estado (e seus assessores e chefes de gabinete), juízes, governadores, prefeitos, partidos políticos, deputados, senadores, funcionários da Receita Federal, policiais, advogados, empreiteiros, apontadores de jogo do bicho, cantadores de bingo e até um ex-jogador de futebol em atividade.

Todos foram mimoseados com simpáticas doações, diretas ou por intermediários, que Cachoeira, por mais generoso, precisará declarar se quiser fazer jus a um abatimento em seu imposto.

O contador do empresário preferirá a declaração completa, em que são relacionadas todas as doações legais, desde que comprovadas? Sim, mas, e se o grosso das doações for exatamente o das não tão legais, constrangedoras se comprovadas?

Uma saída seria jogar o dinheiro nos itens ajuste anual, dívidas e ônus reais, contribuições de campanha, impostos de ganho do capital e participação de Cachoeira como titular, sócio ou acionista no quadro societário de empresas, mesmo que inativas -alguém confere essa patafísica fiscal?

Quanto aos gigantescos rendimentos tributáveis, vindos de obras federais e estaduais contratadas pelos mesmos e gentis ministros e governadores que receberam os mimos, um contador que seja digno de seu sal os converterá milagrosamente em isentos.

De repente, Cachoeira terá até imposto a restituir.

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