Ruy
Castro
Imposto a restituir
RIO
DE JANEIRO - Diante do suplício por que passamos há dias para preencher o
Imposto de Renda -uma ciência que o Ministério da Fazenda elevou à categoria de
arte-, fico imaginando as piruetas do contador de Carlinhos Cachoeira para
fazer a declaração do empresário. Pessoa física ou jurídica, não importa, deve
ser a declaração mais complicada do Brasil.
É só
ver com quantas pessoas e instituições Cachoeira fez negócios no ano fiscal de 2011.
Em sua lista de beneficiários constam ministros de Estado (e seus assessores e
chefes de gabinete), juízes, governadores, prefeitos, partidos políticos,
deputados, senadores, funcionários da Receita Federal, policiais, advogados,
empreiteiros, apontadores de jogo do bicho, cantadores de bingo e até um ex-jogador
de futebol em atividade.
Todos
foram mimoseados com simpáticas doações, diretas ou por intermediários, que
Cachoeira, por mais generoso, precisará declarar se quiser fazer jus a um
abatimento em seu imposto.
O
contador do empresário preferirá a declaração completa, em que são relacionadas
todas as doações legais, desde que comprovadas? Sim, mas, e se o grosso das doações
for exatamente o das não tão legais, constrangedoras se comprovadas?
Uma
saída seria jogar o dinheiro nos itens ajuste anual, dívidas e ônus reais,
contribuições de campanha, impostos de ganho do capital e participação de
Cachoeira como titular, sócio ou acionista no quadro societário de empresas,
mesmo que inativas -alguém confere essa patafísica fiscal?
Quanto
aos gigantescos rendimentos tributáveis, vindos de obras federais e estaduais
contratadas pelos mesmos e gentis ministros e governadores que receberam os
mimos, um contador que seja digno de seu sal os converterá milagrosamente em
isentos.
De
repente, Cachoeira terá até imposto a restituir.
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