02
de maio de 2012 | N° 17057
EDITORIAIS
LÓGICA PERVERSA
Em
pronunciamento alusivo ao Dia do Trabalho, feito na noite de segunda-feira, a
presidente Dilma Rousseff cobrou duramente uma ação dos bancos privados no
sentido de reduzir as taxas de juros cobradas aos clientes nos empréstimos, nas
compras a prazo e nos cartões de crédito.
Argumentou
que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil já deram um bom exemplo neste
sentido e que o governo também está fazendo a sua parte ao desonerar de
impostos a folha de salários, para assegurar alívio aos empregadores e segurança
aos trabalhadores.
Lembrou
ainda, a chefe da nação, que o Banco Central tem feito um esforço para cortar a
taxa básica de juros do país, que hoje está em 9%, mas as instituições privadas
continuam resistindo e privilegiando apenas seus lucros. “O setor financeiro não
tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros”, bradou a presidente em
cadeia nacional de rádio e televisão.
Porém,
ouvindo-se o outro lado, percebe-se que não se trata apenas de má vontade por
parte dos banqueiros. A Febraban garante que os bancos não são os responsáveis
pelas elevadas taxas de juros, que inibem a atividade produtiva, restringem o
consumo, aumentam o desemprego e impedem o crescimento da economia.
Ocorre
que o próprio governo é o grande tomador de empréstimos, para financiar seus
enormes déficits. Ao pagar altos juros para obter empréstimos internos e cobrir
rombos como o da Previdência Social, o governo acaba acionando o círculo
vicioso da usura financeira.
Todos
sabem que os juros só vão cair de forma sustentada se o governo mantiver o
controle sobre a inflação, cortar gastos e gerar superávits para reduzir a dívida
pública.
Aí entram
aspectos que a presidente não mencionou no seu pronunciamento aos
trabalhadores, como as reformas estruturais e a redução significativa dos
gastos públicos, especialmente com a máquina administrativa.
A lógica
perversa, portanto, não pode ser atribuída apenas aos bancos e financeiras,
embora estas instituições invariavelmente sejam movidas por resultados e às
vezes até mesmo pela ganância. Também há uma lógica insana num processo de
governança que gasta mais do que arrecada, que usa cargos públicos como moeda
para comprar apoio político e que transforma ministérios, estatais e órgãos públicos
em cabides de emprego para apaniguados.
Ainda
que não se possa responsabilizar a presidente por este estado de coisas, que é muito
anterior a ela e resiste a sucessivos governos, também não se pode ignorar sua
existência no momento em que o setor financeiro é legitimamente cobrado a fazer
sua parte.
O país
precisa, sim, reduzir o custo do dinheiro, para que mais brasileiros possam se
beneficiar do momento favorável para o crescimento. Mas não basta demonizar os
banqueiros – ainda que muitos façam por merecer o rótulo da perversidade.
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