Brasil, palco das autocracias
The Economist, a bíblia do liberalismo, lançou mais um petardo contra o governo Lula. Em texto no final de semana, intitulado "Presidente brasileiro perde influência no Exterior e é impopular em casa", a revista britânica diz que o petista colocou o país no mapa, mas não se adaptou a um mundo em transformação.
A Economist, que vem criticando o governo nas últimas semanas em diferentes espaços da publicação, avalia que, grosso modo, o Brasil escolheu o lado errado da História. "Em 22 de junho, horas após os EUA atacarem instalações nucleares iranianas com enormes bombas destruidoras de bunkers, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou um comunicado. Afirmou que o governo brasileiro condena veementemente o ataque americano e que as ofensivas foram uma violação da soberania do Irã e do direito internacional".
A revista destaca que essa linguagem "agressiva" colocou o Brasil em "desacordo com todas as outras democracias ocidentais, que ou apoiaram os ataques ou apenas expressaram preocupação".
O próximo "momentum Brazil" já está telegrafado: em julho, mês que começa amanhã, o país vai sediar o encontro dos Brics, que tem se tornado, cada vez mais, um bloco de nações anti-EUA, iliberal e palco de regimes autocráticos. No tapete vermelho, por aqui, estarão delegações de China, Rússia e... Irã.
Prevista para os dias 6 e 7 de julho, no Rio, a Cúpula do Brics ocorrerá sem a presença de Xi Jinping e de Vladimir Putin. A ausência do russo já era esperada, pois ele é alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), devido à deportação de centenas de crianças da Ucrânia. Vai participar da reunião por videoconferência e enviará ao Brasil o chanceler Sergey Lavrov. Já o presidente da China será substituído pelo primeiro-ministro Li Qiang. O Brasil exerce a presidência do grupo em 2025. _
Na Primeira Parada Livre, o desafio ao preconceito
No último sábado, 28 de junho, foi celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Em entrevista à coluna, publicada no fim de semana, Célio Golin, um dos fundadores do grupo Nuances, contou que a primeira Parada Livre de Porto Alegre ocorreu no ano de 1997.
No evento, aproximadamente cem pessoas cruzaram a Rua José Bonifácio, onde tradicionalmente fica o Brique da Redenção. Gritavam palavras de ordem contra a homofobia e em favor dos direitos humanos.
Golin contou que, naquele primeiro dia, algumas pessoas usavam máscaras para que não fossem identificadas, tamanho o medo do preconceito. O ativista enviou à coluna uma fotografia daquela parada na Capital: duas mulheres aparecem cobertas com um capuz.
A coluna busca essas pessoas, para contar suas histórias de vida e dar voz às pautas de gênero. _
Entrevista - Anna Cruz - Diretora da Escola de Inteligência (Esint) da Abin
"A Abin não pode ter enviesamento partidário"
Oficial de Inteligência desde 2009, Anna Cruz é diretora da escola que forma os funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A Abin é uma instituição de Estado e não deveria ser aparelhada por governos, mas volta e meia surgem essas acusações. Como é abordado na escola esse distanciamento?
A Abin é um órgão de assessoramento, existe para auxiliar a tomada de decisão de alto nível, pelo Executivo, para que seja bem informada e livre. Gosto dessa definição porque evidencia os dois ramos da atividade de inteligência: o que produz conhecimento, isto é, que ajuda na tomada de decisão, e o ramo contrainteligência, que protege os interesses, permitindo que a decisão seja livre de constrangimentos, soberana. A Escola de Inteligência prepara profissionais para que façam isso de modo técnico, ético, seguro e legal. Mas essas tais decisões, elas são sobre o quê? São as que impactam a segurança da sociedade e do Estado brasileiros.
Daí você pode imaginar que estamos falando de políticas públicas relevantes, transições globais, de temas como segurança cibernética, riscos e ameaças para o Brasil por meio de espionagem, interferências ilegítimas ou sabotagens, política internacional. Mencionei a palavra "política" algumas vezes, mas note a diferença: a agência, claro, deve se ocupar com questões públicas, como conflitos e disputas por recursos - e isso é "política".
O que a agência não pode fazer é ter enviesamento partidário, se afiliar a uma ou outra agremiação de pensamento, porque esse erro não apenas seria um desvio ético, mas também inviabilizaria nosso próprio negócio, que é a produção de conhecimento confiável.
Como a escola aborda temas como contrainteligência, proteção de dados e ameaças cibernéticas no currículo?
A escola forma servidores da agência e do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), sua matriz curricular é de acesso restrito, mas posso dizer que oferece ações de aprendizagem nos eixos Inteligência (composto por ações diretamente relacionadas à inteligência e à contrainteligência e à análise e operações de inteligência), Transversal (ações relacionadas aos domínios de conceitos, métodos, técnicas e ferramentas de gestão, docência e competências linguísticas) e Temático (ações que contemplam temas relevantes para a atividade de inteligência, como nas áreas de direito, economia, segurança, tecnologia, sociedade e cultura).
Como a inteligência artificial vai impactar o setor?
Com a fartura de informação, o alcance praticamente infinito de coleta e a produção de insights, a IA é uma ferramenta fundamental do nosso tempo, que nos ajuda e nos desafia. A escola precisa ser guia no uso dessa ferramenta, formando profissionais que façam bom uso dela e mapeando competências faltantes. Acredito que, apesar do grande impacto que esse instrumento traz, a identificação do que é relevante, a interpretação dos vários insumos e seu aproveitamento estratégico confiável, são redutos humanos, bem estabelecidos.
Quais são hoje os principais riscos estratégicos monitorados pela Abin?
No Brasil, há instrumentos legais que orientam a atividade de inteligência e a atuação da Abin, além de orientações doutrinárias e, naturalmente, da imposição da própria realidade, cada vez mais complexa, com o agravamento de conflitos e desequilíbrio de poder. A Política Nacional de Inteligência (PNI) vigente é de 2016 e, depois de um esforço em instâncias técnicas no Sibin, há uma proposta de atualização.
São fundamentos da atividade a garantia da soberania nacional, da democracia e a defesa do interesse público e, por isso, são temas de acompanhamento as ameaças a esses fundamentos, como espionagem, interferência externa, sabotagem, terrorismo, armas de destruição em massa, criminalidade organizada, ataques cibernéticos, pandemias e emergências sanitárias, impactos das mudanças climáticas, das transições energéticas e demográficas na segurança. Pela importância e pelo tamanho dessa missão, é necessário ter meios técnicos, pessoal treinado e recursos financeiros para que possamos cumpri-la em um serviço que tenha o tamanho que o Brasil precisa. _