sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Jaime Cimenti

Está difícil a vida de cronista?

A coisa não está fácil para ninguém, se é que algum dia esteve fácil, neste mundo de Deus. Antigamente tinha umas “facilidades” de Direito aí nas cidades do interior, o cara ia lá fazer as provas e, depois de algum tempo, tudo correndo bem, pegava o canudo, se fantasiava de doutor com terno e gravata, colocava um anelão de ouro e rubi no dedo e saía garganteando bem por aí, com certa facilidade.

Hoje, para os cronistas “autorreferentes”, a coisa está até bem, o cara fica falando das joias, dos brilhantes e do ouro de seu maravilhoso umbigo, das abelhas da casa da infância, das rendas da vovó e outros assuntos ou falta de assuntos relevantes. Nem precisa ler os jornais do dia e ouvir as falas das pessoas nas ruas e praças para analisar, comentar e opinar sobre temas espinhosos.

Na época do FHC, muitos cronistas dormiam tranquilos para, de manhã, escreverem contra ele. Era mais fácil. Com a chegada do Lula à presidência, eles ficaram viúvos do FHC e uns acharam até que acabariam desempregados.

Nesse Fla-Flu que virou a política e a vida nacionais, vamos combinar que está complicado para os cronistas opinativos. Se o cara é a favor do governo, os da oposição e os vinte e poucos por cento de brancos, abstenção e nulos ficam de marcação, cobrando coisas. Se o cara ataca o governo, a patrulha governista fica patrulhando, questionando. Se o cronista fica em cima do muro, mandam o cara ir trovar e escrever lá na Muralha da China. Se o cidadão elogia o governo na segunda-feira, critica na terça e não fala nada na quarta, é porque não tem coerência e tal. Complicado, não é? Vai saber.

Vai ver estão certos os escribas “autorreferentes”, desligados de compromissos e engajamentos e atentos só ao que se passa nas pontas de seus narizes. De mais a mais, especialmente lendo a crônica do dia, tem muitos leitores sábios que preferem temas mais leves e querem apenas digerir o café da manhã em paz. Alguém pode ser contra?

Muitos leitores querem ver o circo, os palhaços, os domadores, os tigres, os elefantes e os cronistas pegarem fogo. Cada um na sua. Cada um no seu quadrado, com seus gostos e direitos.

Pois é, o tempo passa, sempre passa, e os cronistas vão seguindo com sua missão de biografar o cotidiano, registrar algumas coisas e opinar sobre outras, que esse negócio de contar histórias e palpitar só termina quando o homem terminar. Deus nos livre! Arreda, vade retro, distopia apocalíptica!
Jaime Cimenti


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