Rogério
Gentile
Lula e a política no STF
SÃO
PAULO - Lula não deixa de ter alguma razão ao dizer que o julgamento do mensalão
teve um componente político. A fase final do processo, quando o STF reformou
sua decisão e absolveu Dirceu e cia. da acusação de formação de quadrilha, foi
diretamente influenciada pela política. Pela política de Dilma.
É necessário
lembrar que Dirceu e Delúbio Soares estariam condenados em regime fechado se o
STF não tivesse mudado de posição entre os dias 12 de novembro de 2012, quando
foram anunciadas suas penas, e 27 de fevereiro de 2014, quando o STF mudou de
posição. E o que aconteceu nesse intervalo de tempo relativamente curto?
Surgiram novas provas? Surgiram novos argumentos?
Não.
A única mudança ocorreu na composição do Supremo. Teori Zavascki e Luís Roberto
Barroso tomaram posse, substituindo ministros que tinham se aposentado, e seus
votos foram decisivos para a mudança do placar. À época, o PT comemorou o que
chamou do "fim de uma farsa".
Farsa
ou não, no fim ou no começo, o STF só mudou de posição porque Dilma, a mesma
que parte do PT bombardeia agora com o "volta, Lula", escolheu a dedo
os novos ministros. Indicou nomes que tinham um entendimento jurídico
condizente com o resultado que o ex-presidente e o PT pretendiam obter.
A
assessoria do Planalto sabia, por exemplo, que em 2010, quando ainda era
ministro do STJ, Teori decidira um determinado caso com posicionamento similar
ao que interessava aos réus do mensalão. Da mesma forma, tinha conhecimento de
que Barroso não seria um inimigo no tribunal. Em mais de uma ocasião, ele
manifestara que o STF estava sendo "duro" com os acusados.
Isso
não significa que os ministros assumiram algum compromisso com o governo. Ou
que o Planalto fez exigência para nomeá-los. Não combina com o perfil dos
envolvidos, tampouco havia necessidade. É inegável, porém, que a política mudou
o desfecho da história.
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