sexta-feira, 30 de maio de 2014


30 de maio de 2014 | N° 17812
MOISÉS MENDES

13 de julho de 2014

A Copa pode não dizer nada para muita gente, por enquanto. Quando começar, a Copa vai dizer tudo, como aconteceu em 50. Há quem sustente até hoje que o Brasil seria um país diferente se tivesse vencido em 50. Que Getúlio não teria se matado quatro anos depois, que os militares não teriam dado o golpe em 64.

Não é agouro, é o que todo mundo fala e vou falar: essa Copa tem um personagem com todos os ingredientes para ser tão trágico quanto o goleiro Barbosa de 50. O goleiro Júlio César pode ir para a final no Maracanã, no dia 13 de julho, com o fardo de Barbosa sobre as costas.

A Folha de S. Paulo encontrou o auxiliar de cinegrafista que fez a única cena do segundo gol do Uruguai, repetida tantas vezes. O ângulo da captação da imagem é tão ruim, que até hoje não se sabe direito se foi mesmo frango de Barbosa.

O que se sabe é que Júlio César vai para a Copa depois de ter falhado no gol da Holanda, que tirou o Brasil do último Mundial. Pra que mexer com isso, logo com o goleiro? Por que não escalar logo Victor no gol? Porque Felipão acha que vai ganhar a Copa com Júlio César defendendo um pênalti.

É cruel a situação do nosso goleiro. Júlio César não poderia ler nada sobre a tragédia de 50. Como essa reportagem que a Folha fez com o auxiliar de cinegrafista Milton Ferreira.

Milton tinha 15 anos em 50, trabalhava para o Cine Laboratório Alex. Todos os cinegrafistas profissionais foram colocados atrás do gol de Roque Máspoli, do Uruguai, porque ali iriam acontecer os gols do jogo.

Chamaram Milton e o orientaram a ficar com a câmera parada atrás do gol de Barbosa, onde nada aconteceria. O Brasil era o favorito, o jogo estava ganho. O guri que pouco entendia de filmagens ficou ali para não fazer nada de importante.

Foi essa a câmera que captou a tragédia, o gol de Ghiggia aos 33 minutos. A imagem é ruim porque a cena da tragédia de 50 não poderia ser iluminada, esclarecedora do que aconteceu. Vê-se o gol num ângulo enviesado. É como se Ghiggia estivesse vindo, de repente, não na direção de Barbosa e do cinegrafista, mas na direção de todos nós.

Barbosa é um dos personagens mais trágicos da nossa história. Aquilo aconteceu num dia 16 de julho. Para quem gosta de números, 16 de julho não era um dia bom para Barbosas. Exatamente 50 anos depois daquela final no Maracanã, num 16 de julho de 2000, morreu outro Barbosa famoso, mas este de boas lembranças, o grande jornalista e humanista Barbosa Lima Sobrinho.

E no dia 13 de julho, data da final da Copa deste ano, o que aconteceu de importante no mundo? Pois foi num 13 de julho (antigo quintilis), cem anos antes de Cristo, que nasceu um cara que ganhou certa fama em Roma. Era um tal de Júlio César. Tão poderoso, que, depois de morto, mudaram o calendário, e julho é uma homenagem ao imperador.


Também ele é um personagem trágico. Mas pense coisa boa. Pense que a numerologia nos salvará e alguém filmará direito a grande defesa do nosso Júlio César na final.

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