sábado, 17 de maio de 2014


17 de maio de 2014 | N° 17799
ARTIGO - A. Marcus F. Paim*

ENTRE ASAS E RAÍZES, O AVESTRUZ

Na mesma edição, sem explicações razoáveis, desperdício de dinheiro público e vidas soterradas pela montanha de medicamentos vencidos conviviam com as eternas obras do aeroporto. Tudo bem, nossa indignação segue compartilhada. Baderneiros tiraram o povo das ruas, mas curtimos tudo nas redes e conversas de elevador.

A alguns de nós tem faltado equilíbrio. Apenas contra ou cegamente a favor. A ferida narcísica dos farrapos não cicatriza. Temos que ser melhores em tudo, ter razão o tempo todo. As falas fáceis e fartas deslumbram, mas não foram feitas para o mundo das coisas práticas. Onde há plateia, predomina a retórica como um fim em si.

Dói em nós a chaga do recesso ético e dos oportunistas de plantão. E temos os egoístas do curto prazo, que só refletem quando há risco imediato à própria pele. Mas numerosos mesmo são os membros da família Struthio camelus, o simpático avestruz. Absurdos se empilham sob o tapete e tudo segue como se a educação opaca, a estrada esburacada, a rotina de dramas pessoais e a insegurança coletiva fossem fenômenos naturais.

Não haverá mudança consistente sem o desconforto da luz sobre fatos e atitudes. Nenhum humano muda algo relevante, em si ou no ambiente, enquanto acha que está tudo bem. Sociedades não conseguem o resgate de si mesmas sem a coragem para ver. E não há quem se mexa com a cabeça afundada na terra fofa do faz de conta. Governantes só trabalham para a felicidade de quem os elege quando saem da emblemática posição do avestruz.

A troca de ideias tem que ser maior do que a de farpas. Já que conceitos são sempre menores do que a realidade que tentam retratar, que tal trocarmos o radicalismo adolescente pelo diálogo adulto? Ainda antes da Copa.


CONSULTOR DE EMPRESAS

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