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terça-feira, 4 de maio de 2010
04 de maio de 2010 | N° 16325
MOACYR SCLIAR
Os problemas com o aeroporto
No passado, viajar de avião era coisa de elite. Os cavalheiros só embarcavam de terno e gravata, as damas iam elegantemente vestidas; não que isso fosse exigência expressa, tratava-se simplesmente de um costume da época.
O serviço a bordo era requintado; tornou-se famoso o jantar que a Varig oferecia no voo São Paulo-Porto Alegre, um verdadeiro banquete acompanhado de vinhos finos. Tudo isso tinha um custo; as passagens eram caríssimas, e só poucos podiam pagá-las.
Os voos frequentemente estavam vazios e nas viagens para o Exterior o passageiro podia facilmente espichar-se numa fila inteira de poltronas, como se estivesse em uma cama (de solteiro). E isto se refletia no aeroporto, uma construção imponente para, naturalmente, impressionar os visitantes.
Não mais. A democratização do país e a ascensão da classe média chegaram ao transporte aéreo. Viajar não é mais só para gente fina; avião agora é instrumento de trabalho, sobretudo num país com enormes distâncias, como é o caso do Brasil. Os voos estão cheios, e neles os turistas são exceção; na maior parte dos casos, são pessoas que viajam a serviço.
E que nesta época do ano começam a enfrentar um problema típico do sul do Brasil: a neblina, em razão da qual o aeroporto sistematicamente tem fechado (ontem inclusive). “Mais três anos de atrasos em voos”, era o título da matéria de ZH na última quarta.
E explicava: há um moderno equipamento que permite pousos e decolagens mesmo com nevoeiro, mas que só pode ser instalado se for aumentada a pista do aeroporto, o que por sua vez depende de desapropriações. No dia seguinte, Jorge Dusso, diretor-geral substituto do Demhab, disse que o problema estará resolvido até julho. Dusso apontou para as enormes dificuldades burocráticas e legais que acabam retardando o processo.
Quem trabalha ou trabalhou no serviço público conhece essas dificuldades. Mas sabe também que existem mecanismos legais e administrativos para superá-las. O que obviamente precisa ser feito. É, em primeiro lugar, uma questão de custo-benefício. Cada vez que uma aeronave não consegue pousar em Porto Alegre, a companhia gasta cerca de R$ 20 mil. Adivinhem quem arca com esse prejuízo.
Mais prejuízos resultam do cancelamento de compromissos. Por último, mas não menos importante, certamente a imagem do Rio Grande do Sul fica prejudicada aos olhos de quem aqui vem. Viajar para um lugar onde o pouso no aeroporto está sujeito à sorte deve desencorajar muita gente. Por tudo isso, é preciso conferir um caráter de urgência às obras, o que é possível dentro da própria sistemática do serviço público.
Algumas pessoas mencionam a Copa como o recurso mágico que permitirá a solução deste e de muitos outros problemas brasileiros. Mas precisamos esperar? Será que não é o caso de tomar medidas imediatas? Afinal, o Rio Grande do Sul foi pioneiro em matéria de aviação. No mínimo, em homenagem a esse passado, deveríamos fazer alguma coisa.
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