Medidas de proteção ao patrimônio são sugeridas
Questionado sobre o que poderia ser feito para que o patrimônio público não fosse alvo de tantos atos de vandalismo, o historiador da arte José Francisco Alves enumera medidas que considera fundamentais.
- Seria preciso ter uma boa iluminação no parque para se atrair turistas, ter uma vigilância maior da Guarda Municipal, através de motocicletas, e as habituais câmeras que estão espalhadas pela cidade.
Favorável ao cercamento da Redenção, Alves reconhece que essa medida seria muito difícil de ser efetivada. - O ideal seria cercar, mas é inviável economicamente - analisa o historiador da arte, mencionando algumas cidades que têm parques fechados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife.
Para o professor Maturino Luz, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o problema passa pela educação.
- A melhor ação é a educativa - sugere Maturino Luz, dizendo que é contrário ao cercamento da Redenção.
Para o docente, o vandalismo ocorre também em espaços públicos de outros países. - Quando era jovem e estudei fora, vi esse mesmo problema em Portugal - relata. Luz lamenta que nem todas as pessoas tenham acesso a educação no país.
- Não adianta cercar o parque e prender as pessoas. É preciso investir em educação - reitera.
O Parque da Redenção é um jardim aberto de obras de arte. Ao mesmo tempo em que monumentos, estátuas, bustos e fontes embelezam o lugar, atraem a cobiça de vândalos interessados apenas em destruir o patrimônio público de Porto Alegre.
Alvos constantes de depredações, pichações e furtos, as peças precisam ser retiradas de seus sítios, restauradas e nem sempre retornam para os locais. Às vezes, precisam ficar escondidas e protegidas das ameaças.
Segundo o Inventário de Monumentos e Obras de Arte do Parque Farroupilha, da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC), 57 itens estão espalhados pelo local. Permanecem nessa lista até aqueles que sofreram algum dano, não se encontram mais completos ou deixaram de ser expostos publicamente.
O busto de Alberto Bins, por exemplo, está sem a cabeça. O de Santos Dumont, que já chegou a ter até o chapéu furtado no passado, necessita de placa de identificação nova, enquanto algumas obras ostentam pichações de todos os tipos.
A arquiteta Manuela Costa, da Diretoria de Patrimônio e Memória, vinculada à SMCEC, avalia quantos monumentos estão danificados atualmente no parque.
- Podemos dizer que 50% dos monumentos da Redenção foram depredados, pichados ou sofreram algum furto - afirma.
Em abril, reportagem de GZH mostrou que a réplica da escultura O Menino da Cornucópia, peça que ornamentava o alto do Chafariz do Roseiral, havia sido novamente alvo de vandalismo no ano passado. Conforme a Diretoria de Patrimônio e Memória, não há previsão de quando a obra voltará ao sítio onde encantava os porto-alegrenses e visitantes de outras cidades.
Localizada nas proximidades da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), entre as avenidas João Pessoa e Paulo Gama, é possível ver a água jorrando na fonte. Mas falta a escultura.
Réplicas
As agressões aos monumentos são perceptíveis. Parte dessas obras já são réplicas, que também não escaparam dos ataques. Passear pelos espaços da Redenção é dar de cara com bases sem busto, pichações e outros problemas.
- Ficar recolocando para saber que não vai durar é complicado. Por isso, optamos em não recolocar as peças menores, os bustos e pequenas cabeças - diz a arquiteta.
Cada canto do parque possui realidades diferentes. O trecho perto do Viaduto Imperatriz Leopoldina, na Avenida João Pessoa, é um dos pontos de maior concentração da ação dos vândalos.
- Se pegarmos o eixo central e a proximidade do Colégio Militar, temos uma situação melhor - percebe Manuela.
Enquanto o cenário não mudar, os bustos e estátuas ficarão guardados em local seguro. Um antigo casarão pertencente à prefeitura, situado na Avenida Independência, abriga muitas dessas peças. A réplica do busto de Joaquim Francisco de Assis Brasil, assim como o de Luís Englert, ambos vindos da Redenção, ocupam espaço dentro do imóvel.
- O furto não é só dos monumentos, estão furtando carros e tampas das lixeiras. É um problema que envolve segurança pública - conclui a arquiteta.
Segundo a Guarda Municipal, há 26 câmeras de videomonitoramento espalhadas pela Redenção. Existe projeto para criação, até o fim do primeiro semestre deste ano, de um posto fixo, que funcionará 24 horas por dia, perto ao Monumento ao Expedicionário. O comandante da Guarda Municipal de Porto Alegre, Marcelo Nascimento, lembra que quem testemunhar algum ato de vandalismo contra o patrimônio público do município pode ligar para o telefone 153.
ANDRÉ MALINOSKI
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