01 DE JUNHO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
EL NIÑO E ÁREAS DE RISCO
As organizações voltadas à meteorologia estão nas últimas semanas reforçando o alerta de que um novo El Niño está prestes a se instalar. Os reflexos no sul do Brasil são conhecidos: chuvas acima da média, especialmente entre o final do inverno e a primavera. O Estado, portanto, depois de três estiagens severas em quatro anos, pode ter agora problemas de outra ordem, causados pelo excesso de precipitação.
Chuvas fortes ou por períodos prolongados costumam causar enchentes, inundações, enxurradas e deslizamentos, entre outros desastres naturais. Deve ser lembrado ainda que, como advertem os cientistas, com o aquecimento global, os eventos climáticos tendem a ser mais extremos. É hora, portanto, de ser previdente para evitar perdas materiais e de vidas.
Um exemplo de trabalho relevante, como ponto de partida, é o levantamento conhecido mês passado encomendado pela prefeitura de Porto Alegre ao Serviço Geológico do Brasil em relação a pontos de risco na Capital. A conclusão foi de que o município tem 142 locais sensíveis. O mesmo trabalho realizado em 2013 apontou 119 pontos. Os considerados de risco muito alto passaram de 10 para 51. Caxias do Sul, em linha semelhante, fez um diagnóstico do território do município destinado a ser uma ferramenta para nortear a urbanização e mapear áreas de risco. Isso permite a elaboração de planos de contingência para as zonas suscetíveis a desastres naturais.
Chega o momento, portanto, de acelerar a implementação de estratégias de prevenção em áreas de risco. Isso passa por um trabalho em várias frentes, como sistemas de alertas para as comunidades onde os problemas são mais graves e preparação e fortalecimento das defesas civis do Estado e dos municípios. São importantes também intervenções como drenagens e retirada de lixo de cursos d´água que cortam áreas urbanas, engajamento dos moradores na prevenção e ações educativas. Junto a isso, é de grande importância a construção de uma política habitacional que possibilite a remoção das famílias que vivem nessas áreas sujeitas a desastres.
As autoridades municipais e estaduais não podem alegar falta de informação sobre os pontos de risco. Mesmo que possam estar defasados, existem levantamentos para vários municípios do Rio Grande do Sul realizados por órgãos como o próprio Serviço Geológico do Brasil e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Chuvas fortes ou que se arrastam por dias tampouco são novidade no Estado. Enchentes e enxurradas se repetem e, em regra, é a população humilde a mais afetada, por ser forçada a viver nesses locais sob constante perigo.
Estudo do governo gaúcho publicado no final do ano passado mostrou que, em apenas cinco anos, entre 2017 e 2021, os desastres naturais deixaram 65,9 mil desalojados, 7 mil desabrigados, 347 feridos e 14 mortos. Foram mais de 110 mil unidades habitacionais e outras 35 mil obras públicas danificadas ou destruídas. A Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU, alerta para a continuidade do El Niño nos próximos anos. Estado, municípios e empresas que prestam serviços públicos, como concessionárias de energia, têm de estar preparados.
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