20 DE NOVEMBRO DE 2017
ARTIGO
FOME NA ESCOLA
Oito anos de idade, 30 quilômetros de viagem, 24 horas sem comer. Um menino, filho de dona de casa desempregada que não tem dinheiro para alimentar as crianças, desmaiou de fome em uma escola do Distrito Federal. O socorrista da Samu foi às lágrimas quando descobriu o motivo do atendimento. Na escola, as crianças comem biscoito e mingau, a rala merenda fornecida pela secretaria. Em casa, arroz e feijão, quando tem. Apesar de as crianças saírem às 11h de casa, a escola não oferece almoço.
O caso remete a outro, que está no Mapa de Boas Práticas da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho. Na escola Adílio Daronchi, de Nonoai, a diretora Marinês Fabris verificou problema semelhante: muitas crianças chegavam e saíam com fome, e o deslocamento era longo. A escola, com apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, construiu uma grande horta comunitária, que não só ajuda a alimentar as crianças da escola como também traz qualificação aos estudantes. Segundo a diretora, um menino de 14 anos, de uma família com dificuldades financeiras, levou as técnicas de plantio para casa, e hoje as hortaliças fazem parte do sustento da família.
Para além da má gestão do Estado, da falta de dinheiro e do descaso com a educação pública, há um outro fator: onde estão as políticas públicas? A Universidade de Brasília desenvolveu um projeto chamado Educando com a Horta Escolar em 2012, nacionalmente reconhecido. Ele chegou até essa escola? O Distrito Federal não tem dinheiro para prover sementes e arados? O que falta para que essa iniciativa seja não só adotada em escala nacional, mas posta em prática, para que todas as escolas tenham estufas e canteiros?
A fome é uma realidade nas escolas públicas, não só no Distrito Federal, mas em todo o país. Combatê-la é urgente, e hortas comunitárias e escolares podem ser bons caminhos. Um menino de oito anos que não consegue aprender porque tem fome é um descalabro, que irá estourar nas mais variadas pontas da sociedade a qualquer momento. As iniciativas existem, a pesquisa também, e desperdiçar recursos não ajuda em nada.
LUÍS FELIPE DOS SANTOS
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