15 DE NOVEMBRO DE 2017
FÁBIO PRIKLADNICKI
A FILÓSOFA POLÊMICA
Se há uma imagem que resume a loucura que tomou conta de alguns brasileiros é a dos protestos contra a presença de Judith Butler no país. Um pequeno mas barulhento grupo resolveu se mobilizar na internet e na frente do Sesc Pompeia, em São Paulo, onde ocorreu o evento, para tratar a filósofa americana como se fosse a encarnação do demônio - de fato, ela chegou a ser chamada de "bruxa", como se tivéssemos retrocedido séculos na evolução da humanidade.
Houve até quem se desse ao trabalho de persegui- la no aeroporto com cartazes em punho. Seria uma cena bastante cômica se configurasse um caso isolado, mas é um péssimo sinal no contexto de crescente intolerância em que vivemos.
Quando cursei um mestrado, há mais de 10 anos, Butler ainda era uma pensadora conhecida basicamente no nicho dos estudos feministas e da teoria queer, principalmente por seu já clássico livro Problemas de Gênero. Nos últimos anos, seu prestígio no âmbito acadêmico e intelectual brasileiro apenas cresceu, com o aumento do número de livros publicados por aqui.
Lá fora, ela não é menos incensada. Em 2012, recebeu o célebre Prêmio Adorno, concedido pela cidade alemã de Frankfurt (em homenagem ao pensador Theodor Adorno) a figuras que se destacam nos campos da filosofia, música, teatro e cinema.
Tenho discordâncias em relação a Judith Butler no que diz respeito à política do Oriente Médio, mas isso não me impede de admirá-la quando escreve e fala sobre este ou outros temas. Assim é o debate de ideias saudável: você lê, esforça-se para entender e depois concorda ou contra-argumenta. Qualquer pessoa que ouça Butler com espírito aberto constata que não há motivo para pânico. É apenas a boa e velha filosofia.
Mas é verdade que a filosofia pode ser revolucionária. Ela é perigosa porque incentiva a paz, o entendimento, o respeito às diferenças, a generosidade. Quem não gosta disso tem motivos para odiar o pensamento.
FÁBIO PRIKLADNICKI
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