domingo, 12 de novembro de 2017






Cingapura cria 'Pronatec' tipo exportação.

Cingapura cria 'Pronatec' e exporta modelo para mais de 50 países

Raul Juste Lores/Folhapress
Cingapura cria 'Pronatec' tipo exportação



Cingapura transformou em negócio a chamada crise do trabalho. Com dezenas de profissões sendo dizimadas pela revolução digital, o governo da cidade-Estado asiática está exportando seu modelo de educação continuada e ensino técnico —uma espécie de Pronatec global.

Depois de criar três gigantescas escolas técnicas, com cara de universidade, para 40 mil alunos, o modelo está sendo exportado —via consultoria, treinamento de professores, material didático e até cursos de recursos humanos, pelo mundo. No ano que vem, será inaugurado um Instituto de Ensino Superior Técnico no Panamá, primeira investida de peso na América Latina.

Ali, do currículo e treinamento de professores ao projeto arquitetônico há participação da potência asiática. Um treinamento para especialistas em currículo está acontecendo na Colômbia. O governo de Cingapura presta consultoria e dá cursos para escolas do gênero em 50 países e mantém centros em convênio com China, Vietnã, Mianmar, Índia, Jordânia, Nigéria e Indonésia.

A Folha visitou o mais antigo dos Institutos de Educação Técnica (ITE, da sigla em inglês), aberto nesse formato "universitário" em 2005 (os outros são de 2009 e 2013). Há aviões estacionados em hangares, onde alunos aprendem a fazer o conserto de turbinas (as naves foram doadas por companhias aéreas que começam a usar Cingapura como centro de manutenção). Existem também de salas com telões de videogame para a produção de aplicativos a programas em realidade virtual, com robôs e drones.

"Nosso marketing não deixa dúvidas de que um curso profissionalizante precisa ter status em uma sociedade que ainda ama um diploma universitário", disse a vice-presidente do ITE, Sabrine Loi. Quando a reportagem visitou o campus, alunos criavam um programa de realidade virtual para professores e funcionários de educação infantil aprenderem primeiros socorros e outras emergências.
Um minishopping no campus, que parece uma galeria, é formado exclusivamente por lojas e serviços criados e administrados por alunos. De salões de beleza e sorveteria à comida orgânica.

Os cursos são alinhados às necessidades da indústria. Quando o ensino técnico ainda não tinha sido concentrado nesses campi, em 2000, havia 29 cursos para sete áreas (transporte e logística, engenharia, eletrônica, saúde, tecnologia da informação, mercado imobiliário). Neste ano, já havia 98 cursos de 12 setores, com inclusões como mídia, turismo, hotéis e restaurantes, atacado e varejo —áreas em franca expansão no país e no exterior.

Cerca de 30 mil alunos recebem de dois a quatro anos de ensino técnico em tempo integral (oito horas diárias). Já passaram pelos dez anos de educação básica obrigatória. Em média, têm entre 17 e 20 anos e são os que não conseguiram ou quiseram entrar nas universidades locais. Outros 16 mil alunos têm mais de 25 anos e procuram trocar de carreira ou especialização, e têm horários mais flexíveis.

A educação continuada no país vai muito além dos ITE. Na rede de ensino público, todos os professores têm direito a cem horas de desenvolvimento profissional por ano. Vão de cursos no Instituto Nacional de Educação sobre estratégias pedagógicas à identificação de deficiências. O professor iniciante recebe mentorias de colegas veteranos por até três anos. Cada escola tem um fundo próprio para patrocinar aprimoramento dos profissionais, como viagens ao exterior.

BRASIL ATRÁS

Em alguns países, o ensino técnico e profissionalizante atende mais da metade dos alunos do ensino médio (os antigos "secundaristas").

Segundo o Banco Mundial, 76% dos alunos na Áustria frequentam esses cursos. Na Alemanha, 51,5%. No Brasil, esse índice é de 7,8%.

Em 2011, a presidente Dilma Rousseff criou o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), muito citado na campanha de reeleição em 2014.

Com a crise, perdeu fôlego. Em 2014, eram 888 mil vagas em cursos técnicos. No ano passado, foram 372 mil. De 2015 para 2016, o orçamento foi cortado de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,6 bilhões.
Raul Juste Lores viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores de Cingapura 

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