terça-feira, 11 de outubro de 2011



11 de outubro de 2011 | N° 16852
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Cinco anos

Terça passada estive em Veranópolis, para a Feira do Livro de lá (que se combina com um Festival de Mágica – excelente ideia!), junto com o Humberto Gessinger, o engenheiro de poucas vogais, gente muito fina e parceiro de vários encontros com leitores.

Mal chegamos, fomos apresentados ao patrono do evento, “um velho professor”, disseram, “de 91 anos”. Só esse número já dá o que pensar; sendo professor, então, nem se fala. Era o irmão marista Herbert Wildner.

Apertamos as mãos e ele, com um ar de mistério, me olhando com um meio sorriso, tirou do bolso um envelope, de onde saíram algumas fotos recentes. Tomou uma delas e me perguntou se eu conhecia um certo senhor que ali aparecia.

Claro: era meu pai, Bruno. (Em outra foto também minha mãe estava estampada.) A foto era de uma festa pelos acho que 60 anos de formatura de uma turma de Contabilidade do Colégio São José, de Lajeado; ali estavam uns ex-alunos, entre os quais meu velho pai, e o ex-professor deles, o mesmíssimo irmão Wildner.

Assim que pude, liguei para o pai, contando do encontro, mas fiz um certo suspense, parecido com o que o irmão tinha feito comigo: dei alguns dados e perguntei se ele imaginava quem era – e o pai disse o nome de guerra, antigo, de seu caro professor. Era a mesma simpática e competente figura. (Fui conferir agora na internet e descobri que o irmão Herbert aniversaria dia 14, daqui a três dias, completando os 91.)

Professor do meu pai, que foi professor, sendo eu também um deles. Não dá para evitar uma exclamação, por esses laços que o acaso proporciona. Mas tudo passa e segue, e anteontem meu filho completou cinco anos. Cinco anos – outra exclamação. O que permanece na vida de um adulto como eu daquele menino de cinco anos que eu fui?

O que seguirá marcado no fundo da alma do Benjamim de seus primeiros cinco anos? Um presente? Aquele Batman, o pequeno pacal, que agora chamam pebolim, a pista dos carrinhos? O beijo forçado numa tia? A alegria de brincar o dia todo com o Alfredinho, seu primo? O ciúme da irmãzinha ao não ganhar tanto presente como ele? A certeza do coração feliz dos pais e parentes? Nada disso?

Mistérios da memória, do afeto, nesta lenta cadeia de pequenos eventos que se chama vida

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