sábado, 22 de outubro de 2011



23 de outubro de 2011 | N° 16864
LUÍSA MEDEIROS
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Uma oração em cinco línguas

“Ave-Maria, gratia plena. Dominus tecum. Benedicta tu (...)”. Quem entra em uma aula de catequese dos alunos da 1ª Eucaristia da Paróquia São João Bosco, no bairro Passo D’Areia, na Capital, pode pensar que está entrando na classe errada. Em um momento, crianças de nove a 11 anos exercitam o latim. Em outro, o francês. Mais adiante o inglês, o espanhol e o então italiano. Em uníssono, apenas o burburinho normal da gurizada que, agitada pelas novidades, não consegue esconder a empolgação.

– O meu grupo aprendeu em inglês, eu achei difícil, mas foi bem legal. Ouvi também em espanhol e fiquei com vontade de aprender. Acho que posso usar quando viajar para outro país – diz o aplicado Vinicius Cainã Pinheiro, nove anos.

A animação é seguida por toda a turma. O pároco local, padre Márcio Augusto Lacoski, diz que não imaginava que o projeto – que já está na sua terceira edição – teria tanta aceitação por parte das crianças, que acolheu a ideia com muito entusiasmo.

– A finalidade das religiões não é construir muralhas, mas sim pontes, e as línguas são pontes entre as pessoas e as culturas. Queremos preparar as crianças para construir essas pontes entre as culturas – explica.

O trabalho é intenso durante todo o ano. A escolha dos idiomas segue a representatividade das etnias da comunidade que frequenta a paróquia, tanto que quem ensina o idioma aos alunos são os próprios catequistas, com a ajuda dos vizinhos. O resultado poderá ser visto em uma apresentação na missa das 10h deste domingo.

Maria Alice Bernardon é um exemplo. A professora de literatura portuguesa e inglesa aproveitou e passou o Hail Mary para a criançada. Já a catequista e, por hora, professora de francês Mara Lopes, diz que chega a ficar emocionada de ver os pequenos alunos rezando na língua europeia.

– A Ave-Maria em francês é quase um cântico, então vejo os aluninhos fazendo biquinho para fazer a oração, chego a chorar – conta.

E enquanto os adultos se esforçam nas lições, os pequenos capricham nos estudos. Com 10 anos, Ana Carolina Golombiewski aprendeu a Ave-Maria em francês e narra algumas dificuldades com a língua, até então, desconhecida.

– É muito diferente do português e tem umas partes que rimam então a gente se atrapalha um pouco, mas é muito bonito – diz a menina.

Já o Henrique Prusch, 11 anos, não teve a mesma sorte: o seu grupo ficou com o latim.

– As palavras são muito difíceis, ainda não consegui decorar tudo. Se pudesse escolher, ficava com o francês, que parecia ser bem mais fácil – admite o guri, que diz ter treinado muito.

luisa.medeiros@zerohora.com.br

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