terça-feira, 25 de outubro de 2011



25 de outubro de 2011 | N° 16866
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Enem era para tanto?

No passado fim de semana, mais uma prova do Enem, Exame Nacional do Ensino Médio, nascido para ser um diagnóstico da situação dessa tão incompreendida etapa da educação formal. Para essa finalidade diagnóstica, o exame tem sentido e tem todo o direito de ser focado mais em competências abstratas do que em conteúdos concretos, com questões que exigem mais raciocínios, conexões, ilações etc, e menos memorização, interpretação de dados ou contas.

Mas o MEC resolveu que esse pato merecia ser ganso, e inventou que o exame passaria a ser o exame vestibular, de ingresso ao ensino superior. O prezado leitor entende a diferença?

Uma coisa é aplicar uma prova para saber se está funcionando o Ensino Médio – preparar engenheiros e técnicos, criar leitores de literatura, inventar cientistas criativos etc–; bem outra é aplicar uma prova para dizer quem são os mais destacados na escala que se adotar para medir o desempenho.

Ora, faz uns 50 anos que as universidades elaboram exames para escolher seus alunos mediante provas pensadas e testadas com ciência e paciência. O leitor, que é um ingênuo, vai deduzir que o MEC usou essa vasta experiência para fazer seu Enem. Certo? Errado: o MEC passou ao largo disso, porque considerou que era tudo “conteudista”, palavra que os pedagogos no poder consideram um crime pior do que bater na mãe.

Um dos argumentos para criminalizar o “conteudismo” tem cabimento: trata-se de condenar o ensino imbecil que promove apenas memorização, sem incentivar raciocínio nem invenção. Por acaso as escolas e os vestibulares das universidades eram sempre assim? Claro que não.

O MEC generalizou e, dispondo de dinheiro para pressionar as universidades, transformou seu Enem “anticonteudista” em vestibular geral do país. Professores de Ensino Médio estão em desespero porque ficaram com o ônus do imbróglio, tendo diante de si o aluno que quer passar no Enem mas sem disporem da regra do jogo, jogado lá em Brasília.

Sabe quem é que resiste a esse poder, ainda? Por acaso, quatro das cinco maiores universidades do Brasil: USP e Unicamp, além da nossa valorosa UFRGS e da UFMG, que o adotam com grande parcimônia (a UFRJ se entregou totalmente, este ano). Alguma coincidência nisso? Ou será que as quatro resistentes têm alguma sólida razão para evitar o Enem? Que é que o leitor acha?

fischerl@uol.com.br

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