sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Jaime Cimenti

Romance traz grande mosaico de nossa vida campeira

A literatura gaúcha sempre contou com grandes romances sobre nossa história, nossa cultura e nossos usos e costumes. Erico Veríssimo, Cyro Martins, Josué Guimarães, Tabajara Ruas, Dyonélio Machado, Luiz Antonio de Assis Brasil e muitos outros escreveram páginas importantes e imorredouras.

Atado de ervas, alentado primeiro romance de Ana Mariano, poeta e contista gaúcha, natural de Porto Alegre mas com infância passada no interior de São Borja, se inscreve perfeitamente nessa tradição essencial.

Acima de outras qualidades, a narrativa de Ana, autora do belo livro de poemas Olhos de cadela (finalista do Açorianos de Literatura) é, antes de tudo, um grande mosaico da vida campeira, a partir do galpão de estância até a sala de jantar.

Tomando como pano de fundo episódios reais e figuras históricas como Getúlio Vargas e João Goulart, dezenas de personagens desfilam nas páginas da autora em meados do século XX. Notícias de rádio, em especial, sinalizam as profundas mudanças no campos e nas cidades no período. Luzia, a protagonista, registra, meticulosamente, no Livro da Fazenda, os acontecimentos cotidianos: nascimento de terneiros, desaparecimento de cavalos e fatos marcantes da saga de quatro gerações de estancieiros e seus agregados.

Patrões, empregados, padres atormentados, uma astuciosa benzedeira, um comunista desencantado e uma romântica costureira, entre outros, são desnudados habilmente pela autora, mostrando as almas e como se vivia e se morria em uma típica estância gaúcha, em um passado não muito distante dos dias tumultuados que vivemos. Cada personagem tem sua linguagem própria, mas os temas são universais.

Amor, trabalho, idealismo, traição, conflitos familiares, apego à terra e tradição, entre outros, estão no caudaloso romance, igualmente baseado em longas pesquisas da autora.

Os modos de vida e o espírito da época são, igualmente, protagonistas da prosa rica e engenhosa da escritora, que retrata o sol, o céu, a natureza e até a locomotiva Maria Fumaça que circulava pela estação de São Borja, nos idos dos anos quarenta e presenciou cenas comoventes de despedida. L&PM Editores, 400 páginas, www.lpm.com.br.

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