terça-feira, 25 de outubro de 2011



25 de outubro de 2011 | N° 16866
DAVID COIMBRA

O povo não é novo

Steve Jobs, há pouco desencarnado, não fazia parte do meu rol de admirações. Não o considerava um gênio inventivo; no máximo, um empresário genial. Mas houve algo que ele disse, do tanto que disse, que me arrancou um sorriso de satisfação quando ouvi (ou li). Jobs contou que não encomendava pesquisas de opinião para a sua empresa, que nunca se baseava na opinião da maioria. Porque ele queria inovar, ele queria ser pioneiro, e a massa jamais inova, jamais é pioneira.

É lógico. A maioria sempre é conservadora, simplesmente porque a maioria sempre olha para trás. Não que todas as maiorias sejam obtusas, não, mas porque a capacidade de ver algo onde nada existe é uma capacidade de poucos. Como uma massa de pessoas teria condições de, em conjunto, conceber uma novidade? Impossível. A criatividade é um dom que se exercita individualmente.

Qualquer coisa absolutamente nova choca a maioria. Afinal, a mudança é uma violência, mesmo que seja uma mudança para melhor. A tendência das pessoas é continuar na inércia, no confortável movimento retilíneo uniforme. Uma parada ou uma aceleração fazem com que você seja impulsionado para frente ou para trás e, às vezes, caia.

A pesquisa de opinião, a enquete, o grito das ruas, a vaia ou o aplauso do estádio, o senso comum, enfim, deve ser apenas um dado, só mais um dado entre tantos que o líder reúne para tomar sua decisão.

Nessa categoria está a escolha de um técnico de time de massa, como o Grêmio ou o Inter. Um bom técnico não é necessariamente um técnico popular. Um bom técnico às vezes é o técnico do dirigente, do líder, não o da torcida. O líder, volta e meia, tem a obrigação de enfrentar a torcida. E ser, como a torcida espera, superior a ela.

O Caso da Cueca

O Bernardo jogou a cueca dele pela janela. Foi ontem de manhã isso. Ele está na fase de ter que tirar a fralda, mas quem diz que quer tirar a fralda? Então, quando ele viu aquela cueca saindo da gaveta na mão da babá, protestou:

– Cueca, não!

E saiu correndo feito um ratinho.

Mimi, a babá, saiu correndo atrás dele, brandindo a cueca. Ele urrava como se fosse um porco indo para o abate:

– Cueca, não! Cueca, não!

Mas a brava Mimi não desistiu. Com denodo e astúcia, encurralou-o num canto do quarto. Ele não tinha mais saída, era parede à esquerda, parede à direita e Mimi à frente. Teria que botar a cueca! A Mimi foi se aproximando, se aproximando, encurvada como um goleiro esperando a cobrança do pênalti... Aí, quando ela estava bem pertinho, ele puxou rapidamente a cueca da mão dela e, tchun!, atirou-a pela janela.

Cinco minutos depois, lá estava o otário aqui subindo numa escada com uma vassoura na mão a fim de puxar a desgranida da cueca do telhado.

É o que falo das mudanças. Ninguém gosta de mudanças.

Como se ganha o ano

Grêmio e Inter não serão rebaixados em 2011. E nenhum deles será campeão brasileiro em 2011. Só o que disputam é a duvidosa honra de se classificar para alguma competição de maior ou menor prestígio. Mas não será a classificação ou não para a Libertadores, por exemplo, que fará com que um ou outro vá terminar o ano em paz. Será o resultado do Gre-Nal. O último jogo do ano, justamente o clássico, fará 2012 começar muito bem ou muito mal.

Sem culpados

Houve quem reclamasse que, nas avaliações do fracasso gaúcho como protagonista da Copa das Confederações, o Grêmio tenha sido apontado como um dos culpados.

O Grêmio não é um dos culpados.

O Inter também não.

Nem o prefeito, o governador, o presidente da Federação, os deputados e os vereadores.

Não há culpados, mas todos somos responsáveis.

O Rio Grande do Sul pecou pela falta de coordenação, falta de antecipação. Falta de planejamento.

Planejamento, essa é a palavra. Tudo o que se faz de bom, faz-se com planejamento.

Um Trem Para a Suíça

No próximo dia 7 estarei lançando meu 15º livro, às 18h30min, na Praça da Alfândega.

O título é “Um Trem Para a Suíça”. Conto histórias de 10 viagens que fiz nos primeiros dez anos do novo século, além de meia centena de crônicas.

Foram viagens para a Suíça, claro, mais Alemanha, Japão, China, Espanha, Malásia, Coreia do Sul, Colômbia, Venezuela e África do Sul.

Espero você lá

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