Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 1 de maio de 2010
02 de maio de 2010 | N° 16323
MOACYR SCLIAR
I love New York
Nova York, cidade que é um caldeirão de emoções, funciona como um coração para o nosso mundo, um coração que bate forte e acelerado
São muito significativos aqueles adesivos com a frase I love New York, nos quais a palavra love é substituída por um coração. Porque Nova York, cidade que é um caldeirão de emoções, funciona como um coração para o nosso mundo, um coração que bate forte e acelerado. É uma coisa ligada à história moderna: no século 19, fazer a América, como se dizia então, passou a ser o sonho dos pobres em muitos continentes.
Europeus, asiáticos, latino-americanos acorriam em massa para uma cidade. Como dizem os versos de Emma Lazarus, inscritos no pedestal da Estátua da Liberdade: Tragam a mim os exauridos, os pobres, as confusas massas ansiando por respirar liberdade.
Apesar da intolerância, do racismo, da caça às bruxas do período McCarthy, os Estados Unidos eram a terra da liberdade, o lugar onde qualquer um poderia perseguir o seu sonho. Muitos o fizeram com sucesso, e o resultado foi uma gigantesca metrópole. Gigantesca e rica: Nova York é o paraíso do consumo, um lugar onde as pessoas compram furiosamente.
Durante duas semanas, tentei adquirir o iPad, o novo leitor óptico da Apple. Inútil, estava sold out, esgotado em todos os lugares. E era missão impossível encontrar um ingresso para a exposição sobre Tim Burton, o diretor de Alice no País das Maravilhas no Museu de Arte Moderna (onde, contudo, vimos uma fantástica mostra do fotógrafo Cartier Bresson).
Nas ruas de Nova York ouvem-se todos os idiomas possíveis e imagináveis, mas o português agora está tendo uma posição de destaque. Os brasileiros vão em massa à Big Apple, catapultados pelo real forte e pelo acessível preço das passagens aéreas. E aí, dê-lhe compras. Encontrei um carioca que já tinha comprado quarenta – isto mesmo, quarenta – camisas, e queria mais.
Em várias lojas onde entrei, a música ambiental era, não por coincidência, brasileira, uma homenagem aos novos consumidores. O Brasil está em alta nos Estados Unidos; na área da literatura, comprova-o o interesse por Clarice Lispector, sobre quem Benjamin Moser escreveu uma recente e muito bem-sucedida biografia.
Voltando ao consumo: nem só de compras vive o viajante. Existem dezenas de peças em cartaz, desde musicais clássicos como West Side Story até obras recentes.
E filme que não acaba mais, a ponto de a gente não saber por onde começar. Sem falar nas fantásticas livrarias, e museus, que às vezes surpreendem: existe, na Quinta Avenida, um Museu do Sexo. A gente imediatamente pensa em sacanagem, e de fato, sacanagem lá não falta, mas a par disso há exposições muito boas: a que vi contava a história da camisinha, desde a época em que era feita de tripa de animais até os nossos dias.
Por causa da mistura étnica, os nova-iorquinos são diferentes de outros americanos, mais abertos, mais exuberantes, mais dispostos a ajudar o turista. Mas atrás disso ainda estão os resíduos de autoritarismo e de violência que, devidamente usados por mandatários como Teddy Roosevelt e os Bush, fizeram dos Estados Unidos a polícia do mundo.
Lembrei-me disso na Penn Station, onde iríamos tomar o trem para Providence, Rhode Island. Eu já estava com os tickets, mas não sabia qual era o “track”, a linha do trem. Havia um policial no saguão e resolvi perguntar a ele. Aproximei-me, e para minha surpresa, o homem soltou um grito: “Back up!”, “Recue!”, acrescentando: “Você está muito perto”.
Não preciso dizer que imediatamente me senti um perigoso terrorista, pronto a detonar uma granada ou a disparar uma metralhadora. Mesmo assim, e a uma distância que o homem certamente considerava segura (uns dois metros) perguntei sobre o “track”. Ele rosnou uma resposta qualquer, deu as costas e foi embora.
Não pude deixar de pensar que, se dependesse de pessoas assim, não apenas não existiriam os versos de Emma Lazarus, como a própria Estátua da Liberdade jamais seria construída. Felizmente, porém, ele era uma exceção, e a frase “I love New York” pode continuar a ser dita. De preferência, claro, com dólares no bolso.
Agradeço as mensagens de João Luiz de Leon Lima, Sonia Haas, Ana Cristina Bittencourt, Lina Cherobini, Victor Sgherra, Jacques Édson Jacques, Mauro Duarte, Márcio Renato Gobatto. Beatriz Lopes, representante da American Airlines em Porto Alegre, foi muito gentil, e o pessoal do Manhattan Connection, o excelente programa do GNT mostrou-se incansável em Nova York. Grande jornalismo feito por belas pessoas.
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