segunda-feira, 29 de julho de 2024


29 de Julho de 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

O caminho para combater a fome

O relatório sobre a fome no mundo apresentado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) na semana passada, durante a reunião do G20, no Rio, mostrou uma melhora dos índices brasileiros na comparação entre os triênios de 2020-2022 e 2021-2023. A despeito da evolução, o país ainda não foi capaz de ser considerado outra vez fora da lista do Mapa da Fome, situação em que menos de 2,5% da população é classificada como subnutrida. O desafio de garantir uma alimentação digna para os brasileiros requer um avanço consistente em múltiplas frentes.

Conforme a FAO, no recorte de tempo analisado o número de pessoas que passaram fome no Brasil caiu de 9 milhões (4,2% da população) para 8,4 milhões (3,9%). A definição de fome, ou subnutrição, é a de indivíduos que não consomem, na média diária, o suficiente para uma vida saudável. Em relação à insegurança alimentar grave, caso de pessoas que ficam um ou mais dias sem comida, o recuo foi de 18,3 milhões (8,5%) para 14,3 milhões (6,6%). O intervalo entre 2020 e 2022 sofreu mais as consequências da pandemia.

No Brasil, os programas de transferência de renda desempenham uma função basilar para diminuir o contingente de famintos. Iniciativas como o Bolsa Família são a forma imediata de aplacar a falta de comida na mesa de milhões de famílias. Mas somente políticas do gênero não são suficientes.

Uma solução estrutural deve deixar os brasileiros mais protegidos de oscilações conjunturais internas e externas e menos dependentes de políticas de estímulo governamental. Essa emancipação passa por um crescimento maior e mais duradouro da economia e pelo aumento da produtividade do trabalho, o que gera empregos novos e mais qualificados, com melhor remuneração. Isso exige bons fundamentos macroeconômicos, que ao longo do tempo garantem inflação sob controle e queda sustentável do juro. A inflação castiga em especial os mais humildes, que gastam maior fatia do orçamento com alimentos.

A educação também é decisiva. Não só pelos horizontes profissionais que descortina, mas, de maneira emergencial, pela alimentação assegurada nas escolas públicas. Não são raros os casos de crianças que têm nos educandários a única refeição do dia.

Se há o lado da demanda, existe também o da oferta. Em entrevista ao jornal O Globo, Álvaro Lario, presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência ligada à ONU, lembrou que experiências confirmam o incentivo à produção de alimentos como fator determinante para combater a fome e a pobreza. Para isso, são necessárias políticas que assegurem, por exemplo, acesso a tecnologia, insumos e crédito a pequenos agricultores, mais vocacionados para culturas de consumo interno. O desperdício de comida, por certo, é outra chaga a ser combatida. A ONU estimou que, em 2022, enquanto o mundo contava 783 milhões de famélicos, residências de todos os continentes jogaram fora o equivalente a 1 bilhão de refeições por dia.

Como se vê, trata-se de um caminho complexo. Mas precisa ser percorrido caso o Brasil anseie, de fato, ser um país capaz de um dia erradicar a fome. 

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