Os salvadores da pátria
Vira e mexe aparece alguém que promete trazer verdades escondidas. Aquele que tem a coragem de falar o que ninguém diz, doa a quem doer. O caso do Nego Di tem estampado os sites e noticiários nos últimos dias.
Começo te dizendo: eles não existem. É que nem o Homem Aranha ou a Mulher Maravilha. São muito legais nos filmes e desenhos animados, mas não fazem parte do mundo real. Eu também queria chamar a Patrulha Canina para resolver os problemas de vez em quando, mas aqueles cachorrinhos fofos e voluntários não se materializam, infelizmente.
Vira e mexe aparece alguém que promete trazer verdades escondidas. Aquele que tem a coragem de falar o que ninguém diz, doa a quem doer. Um vídeo que trará fatos sobre algo que a imprensa quer esconder. O justiceiro. O que vai separar o joio do trigo a respeito dos governos, instituições e pessoas. Alguns também prometem emagrecimento sem esforço, inglês fluente em semanas, a pessoa amada em algumas horas e dinheiro sem trabalhar.
Por que nós, seres humanos, nos prendemos tanto a uma ideia de salvador da pátria, de uma figura que resolva os nossos problemas, ou mesmo que diga simplesmente o que queremos ouvir? Pois exatamente aí está a brecha. É quando quem quer nos convencer de algo consegue o espaço certo. Pega a nossa fragilidade mais íntima. Vende soluções para uma preocupação que está ali, quieta, mas que gera identificação imediata.
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Assim acabamos dividindo a vida entre influenciados e influenciadores e acabamos trazendo para a vida real discussões importantes com embasamento muitas vezes em mentiras. Não à toa muita gente que nunca ouvimos falar tem milhões de seguidores.
Nascem os jogos do tigrinho, os sorteios de dinheiro, de smartphones. O famoso almoço grátis faz nossos olhos brilharem a ponto de esquecermos de notar coisas óbvias. O erro grosseiro na gramática, o preço muito mais baixo que o de mercado, a promessa de resultado fácil.
O caso do Nego Di, que tem estampado os sites e noticiários nos últimos dias, foi construído em cima desse castelo de areia. A loja Tá Di Zueira já era um sinal desde o nome. Pois centenas de pessoas acreditaram, já que havia ali uma pessoa conhecida e querida por elas. Alguém que, para esse público, parecia verdadeiro, sem filtros.
Nos momentos de crise, como foi o da enchente que marcou o Rio Grande do Sul, este mesmo personagem circulou em redes do Brasil todo supostamente contando verdades que ninguém queria que fossem descobertas. Viralizou prometendo desmascarar governos. Para coroar a imagem de salvador da pátria, divulgou que tinha feito uma doação milionária aos atingidos pela chuvarada. A quebra do sigilo, depois mostrada pelas autoridades, apontou cem reais saindo da conta do influencer.
Com políticos isso já acontecia há mais tempo. O brasileiro insiste em depositar sua confiança e se agarra, com unhas e dentes, a alguém que prometa o mínimo. À espera de alguém que salve a pátria, vamos nos contentando com pouco.
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