sábado, 20 de julho de 2024


20 DE JULHO DE 2024
MARCELO RECH

Como seria um Trump 2.0

Enquanto Joe Biden não anuncia a desistência da candidatura à Casa Branca, Donald Trump está a cada dia mais favorito para tomar posse nas escadarias do Capitólio em 20 de janeiro de 2025.

Com enormes repercussões internas e externas, um segundo mandato de Trump deverá ter os seguintes contornos:

Ameaça à democracia - O temor é real, mas sozinho Trump não faz nada. Seria preciso uma combinação que alijasse o Congresso, a Suprema Corte, a imprensa, as empresas e a sociedade civil norte-americana, sem contar as forças armadas e seu sólido afastamento da vida política. Difícil de acreditar numa reviravolta desta envergadura.

Imigração - É onde deve haver a mudança mais imediata e visível. Ainda que com mais fanfarra do que resultados práticos, a entrada e a permanência dos 11 milhões de ilegais vão ser endurecidas. Esperem-se detenções em massa e mais alguns trechos de muro na fronteira com o México.

Europa - É o continente que mais perde com a eleição de Trump, que já precificou o enfraquecimento da Otan e a segurança europeia. Trump diz que resolve a guerra da Ucrânia em 24 horas porque retirará o apoio dos EUA. Para se manter de pé, a Ucrânia dependeria exclusivamente dos vizinhos. As recentes vitórias de centro-esquerda no Reino Unido e na França não ajudam a Europa em um governo Trump.

China - Em termos econômicos, Trump é o oposto dos republicanos do passado. Seu nacionalismo protecionista terá na China o principal alvo, com uma longa lista de sobretaxas. O movimento salva empregos ineficientes nos EUA, mas também desperta a inflação. Em contrapartida, Trump quer que Taiwan banque sua defesa contra ambições chinesas. A indústria mundial de chips prende a respiração.

Irã - É quem tem mais a temer no Oriente Médio. A mão pesada que decretou a eliminação do general Qassem Soleimani em janeiro de 2020 voltará a cair contra a expansão militar dos aiatolás. Trump, porém, é melhor no blefe do que como combatente. Orgulha-se de não ter iniciado nenhuma guerra em seu governo.

América Latina - O Brasil de Lula, que já tem relações mornas com os EUA de Biden, pode esperar um esfriamento. Já Javier Milei, que cultua Trump, tentará fazer da Argentina o principal parceiro dos EUA. Para Trump, abaixo do Rio Grande há só um grande reservatório de imigrantes que devem ser contidos por bem ou por mal.

Dólar - Deverá cair no resto do mundo. Trump quer a desvalorização da moeda para conter importações e aumentar as exportações dos EUA.

Transição energética - Será postergada. Trump desdenha de energias alternativas e venera o petróleo. Deverá desfazer boa parte da legislação ambiental. Azar do planeta. _

MARCELO RECH

Nenhum comentário: