terça-feira, 16 de julho de 2024


16 DE JULHO DE 2024
CARPINEJAR

A juventude do bullying contra a velha democracia

O que me preocupa com o atentado a Donald Trump é que a maior ameaça à democracia vem da juventude, de um radicalismo sem uma clara motivação política, deflagrado por dores absolutamente pessoais.

Não parece que foi uma conspiração para tirar o forte candidato republicano da disputa, a quatro meses da eleição. E, pela gravidade da ocorrência - que deixou um espectador morto e dois seriamente feridos durante um comício na Pensilvânia, no último sábado -, nada sugere uma armação de Trump para ganhar opleito na reta final. O custo de sangue do circo de horror seria excessivamente alto.

Com a decadência intelectual do presidente Joe Biden, que busca a reeleição nos debates e nas declarações públicas, Trump é o favorito. Não iria colocar sequer a sua orelha em risco.

Chama atenção a precocidade do atirador, Thomas Matthew Crooks, de apenas 20 anos, mais jovem do que Lee Harvey Oswald, assassino de Kennedy aos 24 anos, que igualmente morreu em seguida na tradicional queima de arquivo.

Thomas teria agido sozinho. E não ostentava nenhuma causa ou bandeira ideológica, a não ser entrar para a história por uma questão menor, por um acerto de contas subjetivo. Ele nem usava seus perfis nas redes sociais para promover violência ou discutir suas opiniões sobre o cenário atual de disputa de poder.

A alienação, a gratuidade do ato, a falta de sentido aparentes indicam o quanto a nova geração pode estar perdida em chagas da formação. O terrorismo surge do pântano da aleatoriedade, o que é muito mais difícil e complexo de ser combatido.

Não existe como antever chacinas a partir de semblantes amistosos e inofensivos como o de Thomas. Ele não possuía antecedentes criminais, morava a cerca de 70 quilômetros de Butler, onde aconteceu o comício de Trump, recém havia concluído o curso de Ciência da Engenharia, trabalhava no contraturno numa casa de repouso, era elogiado pelos colegas e admirado pelos pais.

Por que jogaria fora o seu futuro? Demonstrava, inclusive, potencial científico para crescer na carreira. Formado em 2022 na Bethel Park High School, recebeu um prêmio de US$ 500 da Iniciativa Nacional de Matemática.

O que aumenta ainda mais o mistério é que sua atuação foi a de um profissional do tiro. Armado de um fuzil AR-15 semiautomático, escondeu-se num telhado a 120 metros do local. Não é qualquer um que goza de uma mira tão boa.

Não pode ter sido proeza de um iniciante. Ele se preparou para o evento, planejou a emboscada e, por muito pouco, não consumou o assassinato. Se Trump não virasse a cabeça para o lado numa fração de segundos, ele seria um homem morto. Acabou levando um raspão devido ao seu hábito de gesticular com ênfase e passionalidade na tribuna.

Uma hipótese plausível é que Thomas organizou uma vingança para justiçar o deboche que sofrera por ter sido rejeitado no clube de tiro na escola, por não ser considerado um bom atirador. Se for o caso, o que o atentado aponta é que menosprezamos a magnitude do bullying. Não o reconhecemos como epidemia, como tema de saúde pública mais do que um desarranjo educacional.

Vestindo uma camiseta do Demolition Ranch - um canal famoso do YouTube que posta vídeos de seu criador disparando pistolas e fuzis em alvos que incluem manequins humanos -, decidiu gritar sob a forma de rajada de projéteis para o mundo inteiro ouvir.

Será? Jamais confirmaremos sua versão, já que foi imediatamente abatido pelo serviço secreto. _

CARPINEJAR

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