terça-feira, 6 de junho de 2023


06 DE JUNHO DE 2023
OPINIÃO DO LEITOR

O VALOR DA BENEMERÊNCIA

Foram conhecidos na semana passada mais detalhes e instalações do Hospital Nora Teixeira, a nova unidade do complexo da Santa Casa de Porto Alegre. Os 15 andares do prédio devem estar concluídos em outubro, quando a instituição celebra seus 220 anos e um ano depois da inauguração da nova emergência, a grande âncora do projeto, totalmente voltada a atendimentos de alta complexidade pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Talvez, mais do que toda a tecnologia empregada e qualidade do ambiente, o empreendimento mereça ter os méritos destacados pela forma como foi viabilizado o investimento. São R$ 220 milhões em doações, sendo que o principal aporte, de R$ 80 milhões, foi feito pelo casal de empresários Alexandre Grendene e Nora Teixeira, exatamente para a emergência. Nora, atuante em iniciativas do gênero, é reconhecida como grande entusiasta da ideia, tendo se engajado ainda na busca de mais benfeitores para conseguir novas verbas que permitissem concretizar este novo estabelecimento de saúde, que vai beneficiar todo o Rio Grande do Sul. Nada mais adequado, portanto, do que a homenagem que recebeu, emprestando o seu nome ao hospital.

O custo total do projeto é de R$ 284 milhões. Dos R$ 220 milhões captados, R$ 15 milhões foram repassados pelo governo gaúcho, e o restante foi alcançado pelas famílias de Santina De Carli Zaffari, Irineu Boff, Ling Sheun Ming, João Jacob Vontobel, Regina e Hermes Gazzola, Caio Poester e Renato Bastos Ribeiro. Integram ainda a relação de doadores as empresas Josapar/Real Empreendimentos e JBS. Cada um foi homenageado com o batismo de uma das unidades do novo hospital.

É um projeto relevante ainda pela possibilidade de seu êxito ser um incentivador a mais à benemerência no Rio Grande do Sul. Um exemplo bem-sucedido, capaz de fazer com que mais gestos semelhantes se materializem no Estado. Não faltam, na sociedade gaúcha, pessoas, empresas e famílias com condições financeiras para ajudar em causas sociais ou culturais. Mas isso não é tudo. Do outro lado, é basilar ter projetos sólidos conduzidos por instituições de credibilidade, que empreguem bem os recursos, prestem contas com transparência e entreguem os resultados propostos. É o caso da Santa Casa, aliás.

O social, em busca de uma sociedade mais justa e próspera, é uma preocupação sempre presente entre as grandes empresas e empresários do Rio Grande do Sul. Uma das referências nessa área no Estado que merece menção é a Fundação Marcopolo, vinculada à fabricante de carrocerias de ônibus de Caxias do Sul, que acabou de completar 35 anos. Atende 20 mil adolescentes por ano por meio de projetos ligados à cultura, ao esporte e à capacitação profissional, oferecidos no contraturno a alunos de Caxias, Farroupilha e São Mateus (ES). Os atendidos não são só filhos de funcionários, mas estudantes de escolas públicas, as quais também recebem apoio para melhorias estruturais e ações pedagógicas.

Existe a consciência de que, mesmo sendo um papel estatal, o poder público não é capaz de atender a todas as necessidades da sociedade, especialmente das camadas mais humildes. O caso do Hospital Nora Teixeira é modelar. A emergência construída pela benemerência atende pelo SUS, mas as demais unidades, com diversas especialidades, serão destinadas a pacientes particulares e de convênios. E essas receitas ajudarão a Santa Casa a compensar o déficit que a instituição tem com o SUS. Também indiretamente, portanto, é a solidariedade ajudando a fortalecer o sistema universal de saúde.

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