terça-feira, 26 de junho de 2012



26 de junho de 2012 | N° 17112
PAULO SANT’ANA

Um crime horrendo

Deus sabe o que tenho sofrido com minhas duas doenças.

Por sinal, tenho a impressão de que Deus permitiu em mim essas duas doenças porque calculou meu limite de sofrimento.

Mas eu tenho sofrido tanto, que a mim parece que meu limite de suportar sofrimento está quase passando dos limites.

Por sinal, há uma frase que criei no jornalismo gaúcho e é pronunciada várias vezes por outros jornalistas aqui da RBS, que continua acicatando meu espírito: “Há situações em que o suicídio é um dever”.

Esta é a minha situação.

Durante 90 dias, a conselho de muitos leitores, não abordei nesta coluna a minha doença. Eu sei: eu abordava, antes dos 90 dias, em demasia a minha doença, chateava os leitores.

Porque o sucesso desta minha coluna sempre residiu em que eu abordei, sempre, em 40 anos, o assunto que estava incendiando a minha mente.

Não há como não ficar incendiado por essa minhas duas doenças, elas tomaram conta de mim e dou graças a Deus de que as duas doenças só não atingiram uma parte de meu corpo: o meu cérebro, como bem atestam os meus leitores nos últimos tempos.

Meu coração foi atingido pelas doenças: apanho-me várias vezes odiando alguém, quando, antes das doenças, não cabia ódio dentro do meu coração.

Meu consolo é que ultimamente só tenho odiado os maus. Se eu por acaso odiasse os bons, então minha vida estaria finda.

Vou dar um exemplo de um ódio meu: em São Paulo, segundo excelente reportagem do último Fantástico, vários policiais de uma delegacia praticavam o seguinte crime: eles sequestravam pessoas envolvidas em tráfico de drogas e exigiam R$ 100 mil para libertá-las.

Eles escolhiam a dedo os sequestrados: eram pessoas-chave para os traficantes.

Então, os traficantes, para libertar os sequestrados, pagavam os R$ 100 mil, por cabeça. Algumas vezes, pagavam os R$ 100 mil em duas prestações.

E pasmem os meus leitores que não assistiram ao Fantástico: sabem onde era o cativeiro dos policiais sequestradores? No lugar mais óbvio para camuflar um cativeiro: nos xadrezes da delegacia.

Um crime horrendo, praticado por policiais que deviam evitar ou reprimir os crimes horrendos.

Há notícias, como essa, que seria melhor que delas não tivéssemos conhecimento. Mas eu não sou idiota a ponto de evitar determinados noticiários.

Policiais sequestrando em troca de fortunas e escondendo os sequestrados no xadrez da própria delegacia é o cúmulo da corrupção oficializada. Esses policiais só poderiam fazer isso com a conivência e chefia do delegado.

Pois o delegado era, segundo o Fantástico, o mais ilustre envolvido.

Se há momento em que fico estatelado, é quando noticiam corrupção na polícia ou na Justiça.

Na Justiça, é muito mais rara a corrupção do que na polícia.

Mas isso estraga a minha semana. E me suscita ódio.


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