sábado, 23 de junho de 2012



24 de junho de 2012 | N° 17110
VERISSIMO

Macarronada

Helena e Marcos decidiram se casar. Helena avisou a família e ouviu uma queixa do avô.

– Eu não conheço o moço. Em seguida o avô se lembrou dos tempos em que estamos vivendo e emendou:

– Suponho que seja um moço. – É, nono. É homem. Vai ser um casamento tradicional.

– Mas eu nem conheço o moço!

Combinaram que haveria um jantar para o avô conhecer o moço. E mais: o nono cozinharia. Faria a sua elogiada macarronada com molho de ragu secreto. A macarronada era elogiada pela família para agradar o velho, pois o ragu era intragável. Desconfiavam que o ingrediente secreto fosse grapa. Felizmente, o velho só a fazia a macarronada para ocasiões especiais. Como um jantar para conhecer o moço que casaria com sua neta.

– Não deixe de elogiar a macarronada dele – instruiu Helena.

– Certo. – Fale alto porque ele está ficando surdo.

– Tá. – E não fale em política.

O velho admirava o Mussolini. Dissessem o que dissessem dele, Mussolini trouxera ordem e progresso à Itália. Só Mussolini conseguira que os trens italianos andassem no horário. O Brasil precisava de alguém como o Mussolini. O mundo precisava de muitos Mussolinis. – Vou declarar que eu sou fascista desde pequeno – propôs Marcos.

– Não precisa tanto. Só não toca no assunto. – Certo.

– Lembre-se: elogiar a macarronada, falar alto e não tocar em política. – Perfeito.

Mas Marcos sentou-se para o jantar nervoso. Não conseguia decifrar o olhar com que o velho o examinava. Aprovação, desaprovação, desconfiança? O velho não falava. Quando chegou a macarronada, Marcos se sentiu na obrigação de dizer alguma coisa.

– Ah! – disse. – A famosa macarronada com o molho secreto. Sua neta me falou a respeito.

– Quem? – disse o velho. – Sua neta, Helena.

O velho olhou em volta da mesa como se pedisse socorro. O que aquele moço estava dizendo? Marcos, cada vez mais nervoso, falou mais alto.

– O molho secreto! Maravilhoso! Ainda não provei, mas só a cor...

– Ahn – fez o velho. – Vermelho. Você gosta de vermelho? – Não! Não! E tem mais...

Marcos estava tomado de uma espécie de frenesi. Quase gritou:

– Eu acho que o que este país precisa é de alguém que faça os trens andarem no horário!

O velho sorriu. Gostara do rapaz. Fez questão que ele repetisse a macarronada com molho de ragu secreto. E o ragu estava pior do que nunca.

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