
OPINIÃO RBS
Um ano depois do momento mais agudo da pior enchente de todos os tempos no Rio Grande do Sul - que deixou 183 mortos, 27 desaparecidos e milhares de desabrigados em quase todos os municípios do Estado -, percebe-se que a população gaúcha se divide entre dois sentimentos antagônicos: o orgulho de sua própria resiliência e uma grande preocupação em relação às promessas públicas de reconstrução.
No entanto, muito já foi feito nesse sentido. Desde o primeiro momento, governantes, autoridades e lideranças comunitárias se mobilizaram no socorro e no atendimento básico às famílias desalojadas. Em poucos meses, pontes e ligações asfálticas foram recuperadas e as principais atividades econômicas já podem ser consideradas praticamente normalizadas. Com raras exceções, as cidades atingidas se sentem mais preparadas para enfrentar calamidades.
Em âmbito estadual, o Plano Rio Grande - o programa de recuperação e resiliência climática apresentado pelo governo do Estado - contempla aspectos importantes para o enfrentamento de futuros desafios climáticos. Porém, como a destruição foi rápida e a reconstrução depende de trabalho, recursos e superação de barreiras burocráticas, é natural que alguns setores da sociedade cobrem medidas mais efetivas.
Além disso, algumas comunidades ainda se sentem expostas aos riscos provocados por eventos climáticos extremos que, segundo os especialistas, tendem a se repetir com maior frequência no futuro. É compreensível: mesmo quando existem vontade política e recursos públicos disponíveis para a execução de obras recomendadas, como é o caso do dique localizado na zona norte da Capital, a dificuldade em remover moradores da área de risco para habitações dignas acaba entravando todo o processo.
Enquanto o setor privado trabalha em ritmo alucinante para normalizar a atividade produtiva, como acaba de constatar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em relação ao crescimento da produção agropecuária do Estado, o setor público esbarra em trâmites burocráticos. Estudos e projetos necessários à liberação de recursos demoram a ser concluídos, obras públicas sofrem interrupções injustificadas por qualquer motivo e até mesmo providências aparentemente simples, como limpeza de bueiros e recomposição de barreiras de proteção, esbarram nas limitações do poder público.
Ainda assim, é impositivo reconhecer que o Rio Grande avançou muito neste ano de convalescença. Considerando-se as dimensões da catástrofe, o povo reagiu com coragem insuspeitada e nunca faltou empenho às nossas lideranças políticas para buscar soluções, tanto no âmbito federal quanto no estadual e nos municípios.
Só que a corrida contra o tempo continua. Enquanto as populações vulneráveis não forem retiradas das áreas de risco, a infraestrutura de transporte e serviços essenciais não for totalmente reparada, os sistemas de proteção e contenção de rios não estiverem concluídos, a drenagem dos grandes centros urbanos não for melhorada e a população não for adequadamente educada para reagir a situações extremas, o trabalho de reconstrução de um Rio Grande melhor não estará concluído.
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