
Quem ronca não sabe que ronca
Não enxergamos os nossos defeitos. Como evoluir se não reparamos as nossas falhas? E não é por mal, é porque estamos viciados em nos proteger, condicionados a nos defender.
Parece que, com o erro exposto, deixaremos de ser amados. Entramos numa desvalia emocional, como se estivéssemos perdendo valor na hora da repreensão.
Não admitimos o ciclo natural do aprendizado, de absorção das críticas para o constante aperfeiçoamento. Se alguém próximo faz um comentário sobre algo para mudar em seu comportamento, você aceita de primeira?
Dificilmente. Você vai refutar, vai discutir, vai - talvez num processo compensatório - tentar encontrar um problema no outro para neutralizar o que você toma como um ataque. Ou seja, você não analisa os seus erros, o que precisa transformar em si para o bem da sua saúde emocional.
Você passa a vida inteira procurando aprovação, não transformação. Esta é a grande senha para o amadurecimento: quando você não quer mais a aprovação e finalmente acolhe a transformação, caminho que só pode ser feito a partir da aceitação.
Ao aceitar quem você é, reconhecer seus pontos fracos, você começa a se transformar, adquirindo novas habilidades. A equação matemática seria:
ACEITAÇÃO = TRANSFORMAÇÃO
Assim você combateria a fórmula:
APROVAÇÃO = RESISTÊNCIA À MUDANÇA
Ao se preocupar excessivamente com a opinião de terceiros, com o que fica na vitrine, com a sua reputação e imagem pública, sempre se sentirá ofendido com a verdade ou com observações alheias. Entenderá qualquer avaliação de sua postura como condenação (muito mais do que um julgamento). Oferecerá uma relutância mal-humorada e indisposta de acatar o contraditório, o contraponto, vivendo uma idealização de si, numa couraça impenetrável. Não se conhece - e odeia quem se mostra íntimo, capaz de apontar as suas imperfeições.
Uma ilustração desse modus operandi, inconsciente e involuntário, de não naturalizar as limitações - do ego cego - é o ronco.
Quem ronca não sabe que ronca. Não escuta o seu ronco. Seu ronco atrapalha quem está ao lado. Ele não sabe o quanto pode ser uma britadeira, o quanto pode ser enervante, o quanto pode ser insuportável, o quanto pode tirar o sono dos demais - já que não ouve o seu próprio defeito. Ele não testemunha a sua aterrorizante apneia, a sua falta de ar, o seu afogamento seco. Não sofre com aquilo que causa ao redor. Envolvido em sua cortina de dormência, sequer suspeita que a sua presença é nociva para os seus afetos.
É provável que rebata as advertências achando que são exagero, drama, perseguição ou ausência de apoio e compreensão. O maior prejudicado acaba sendo ele mesmo. Não percebe que a sua saúde está em risco com a baixa oxigenação do cérebro e a possibilidade de uma parada cardiorrespiratória.
Quando não conseguimos identificar o que devemos retificar, somos nossos maiores malfeitores. Somos, simultaneamente, vítimas e carrascos. _
Nenhum comentário:
Postar um comentário