sábado, 3 de maio de 2025


 
03 de Maio de 2025
ANDRESSA XAVIER

O país dos resignados

Pessoas que passam por situações difíceis vão criando o que chamamos de casca. É um anticorpo para não serem tão afetadas ou pelo menos reagirem diferente na próxima vez que a vida lhes der uma rasteira. Quando o inesperado vem, já estão preparadas. Nada mais surpreende. É assim que sinto o brasileiro hoje. Calejado com Mensalão, Petrolão, Lava-Jato e afins, o cidadão já não espera mais nada. Quando deposita a confiança em um político que promete o mundo, invariavelmente vai quebrar a cara. Nem sempre nota na hora, mas o arrependimento vem. Sabe que não pode colocar a mão no fogo por ninguém. Às vezes o faz, pois é um otimista por natureza, mas não é o recomendado.

O brasileiro é resignado. Além da corrupção, ainda lida com a impunidade. Não só nos roubos descarados, mas até em mortes provocadas por motoristas bêbados, que dificilmente seguem presos, para dar um exemplo. Ou ainda os mil recursos de um condenado e dribles dentro das brechas que as leis proporcionam.

Enquanto o cidadão comum enfrenta o ônibus lotado, a fila do SUS e rebola para se sustentar com um salário que não cobre as despesas básicas da casa, o grupo dos que se acham espertos cria quadrilhas institucionalizadas, como foi o que aconteceu no INSS e descobrimos recentemente, embora o tenha sangrado por anos a fio. Uma operação que não para de dar frutos podres. Seis bilhões de reais descontados indevidamente e sem autorização entre o governo anterior e o atual. Em português bem claro, roubo direto da fonte.

De novo, os mais vulneráveis são vítimas de um sistema que usa e abusa das falhas para colocar a mão no dinheiro dos outros. Se achávamos que a histórica fila de espera do INSS era problemática, seja por falta de gestão ou por incompetência e má vontade, agora descobrimos que esse era o menor dos problemas.

É de um cansaço tremendo ver os mesmos erros se repetindo. Temos a sensação de abandono e de não poder fazer nada para mudar os rumos de um país que tem a corrupção entranhada em sua história. O Brasil precisa de um Estado que respeite seu povo, que proteja seus mais frágeis, que puna os culpados sem medo ou conivência. Quando o ministro responsável pela indicação no INSS e pela pasta, que também foi alertado sobre o golpe que havia lá dentro e ignorou o aviso, continuou por semanas no cargo, se estende um sangramento desnecessário. Em nome da governabilidade, o governo Lula errou mais uma vez ao manter Carlos Lupi, o omisso, no cargo. Somente na sexta-feira, depois de todo o desgaste, é que o ministro, enfim, caiu.

Enquanto isso, seguimos como os resignados e determinados fazem, trabalhando e nadando contra a maré. A indignação das pessoas já não constrange mais Brasília. _

ANDRESSA XAVIER

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