domingo, 25 de outubro de 2015

Help: o 'menino axé' conseguiu entrar no Enem?

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Vi um jovem na plataforma do ônibus discutir com a mãe pelo celular.
- Não vai dar mais tempo! Não vai dar! Tem que pegar outro ônibus...
Ele falava alto, estava impaciente e nervoso (com ele próprio ou com a insistência da mãe?).
Percebi imediatamente: ele havia errado o endereço. Uma solidariedade minha com os dois se estabeleceu. Eu tinha acabado de deixar a minha filha com amigos na entrada da FMU da avenida Santo Amaro, região sul de São Paulo. Ela já havia ultrapassado os portões.
Por segundos, eu me coloquei no lugar dele, que parecia querer abandonar tudo. Por outros, no da mãe, que eu imaginava dizer: persista!
Foi quando, num impulso, decidi sair do estado de voyeur.
- Rapaz, o que está acontecendo?
- Não era aqui o meu local de exame.
- Onde era? Deixa eu ver...
- Chácara Santo Antônio... Não vai mais dar tempo.
Me xinguei. Estava sem dinheiro, só com cartão (também não tinha conseguido me organizar).
- Vamos pegar um táxi –eu disse, e ele me olhou aturdido.
E assim foi.
O taxista aceitou que eu pagasse ali mesmo, com cartão, um valor estimado. Digitou com rapidez o endereço no smartphone, e deu tempo para uma pergunta minha:
- Quanto tempo leva?
- Vinte e um minutos.
Eram 12h40, e os portões fechariam às 13h.
O taxista foi firme:
- Se a senhora está ajudando, eu também vou ajudar! Entra aí, garoto!
Ousei dizer ao jovem:
- Não desista nunca antes da hora!
E repetir:
- Não desista nunca antes da hora!
Ainda perguntei:
- Qual é o seu nome?
Ele respondeu algo como Wesley ou Welder –não registrei, porque uma emoção começava a tomar conta de mim.
- Obrigado, receba a proteção dos orixás. Axé!, disse ele.
E partiram...
Agora, não consigo parar de me perguntar: deu para o "menino axé" entrar no Enem? Conseguiu passar os portões?
No trajeto do ônibus, de volta para a minha casa, senti raiva.
Barracas e bancas com gente vendendo caneta de tinta azul, régua, borracha –objetos que não podiam ser usados pelos candidatos. Nenhum agente público para organizar aquela bagunça. Nenhum monitor para orientar os estudantes. Nenhum marronzinho para organizar o trânsito.
Sim, os jovens são atrapalhados. Mas e a logística que só o Estado pode e deve organizar, onde ela estava?
Amanhã tem mais! 

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