segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Diálogos com o mestre IX – o sexo

(Foto: Reprodução)(Foto: Reprodução)
“Por que o sexo se transformou em um tabu?”
“Porque é um processo de alquimia: ele transforma em um gesto físico toda uma gigantesca manifestação de energia espiritual, chamada amor.
Não podemos entender o sexo como o vemos hoje – uma simples resposta a alguns estímulos físicos. Na verdade, ele é muito mais que isso, e carrega consigo toda a carga cultural do homem e da humanidade. Cada vez que estamos diante de uma nova experiência, trazemos todas as nossas experiências passadas – boas ou más – e os conceitos que a civilização transformou em regras.
Não pode ser assim, é preciso descondicionar o cérebro para que cada experiência sexual seja única, assim como cada experiência amorosa é única.”
“Muito difícil.”
“Muito. Mas é preciso tentar, porque a quase totalidade dos seres humanos necessita manter esta energia em movimento. Então, a primeira coisa é entender que ela é composta de dois extremos, que vão caminhar juntos durante todo o ato: relaxamento e tensão.
Como colocar estes dois estados opostos em sintonia? Só existe uma maneira: através da entrega. Como se entregar? Esquecendo os traumas do passado e não tentando criar expectativas sobre o futuro – ou seja, o orgasmo. Como fazer isso? Muito simples: não ter medo de errar.
Na verdade, na maioria das vezes, já entramos em uma relação sexual pensando que tudo pode dar errado. Mesmo que fosse assim, que importância tem isso? Basta você estar consciente de que precisa dar o melhor de si e o errado se transforma em certo.
À medida que a busca do prazer é feita com entrega, com sinceridade, sentimos que o corpo vai ficando tenso como a corda de um arqueiro, mas a mente vai relaxando, como a flecha que se prepara para ser disparada. O cérebro já não governa o processo, que passa a ser guiado pelo coração. E o coração utiliza os cinco sentidos para mostrar-se ao outro.”
“Os cinco sentidos?”
“Tato, olfato, visão, audição, paladar, todos estão envolvidos. É engraçado que, na maioria das relações sexuais, as pessoas tentam usar apenas o tato e a visão: agindo assim, empobrecem a plenitude da experiência.”
“Os dois parceiros precisam saber isso tudo?”
“Se um parceiro se entrega por completo, ele quebra o bloqueio do outro, por mais forte que seja. Porque o ato da entrega significa: ‘eu confio em você’. O outro, que a princípio está um pouco intimidado, querendo provar coisas que não estão em jogo, fica desarmado com a espontaneidade de tal atitude e relaxa. Neste momento, a verdadeira energia sexual entra em jogo.
E esta energia não está apenas nas partes que chamamos de ‘eróticas’. Ela se espalha pelo corpo inteiro, por cada fio de cabelo, pedaço de pele. Cada milímetro está agora emanando uma luz diferente, que é reconhecida pelo outro corpo e se combina com ele.
Quando isso acontece, entramos em uma espécie de ritual ancestral, que é uma oportunidade de transformação. Um ritual, seja ele qual for, exige que você esteja pronto para deixar-se conduzir a uma nova percepção do mundo. É essa vontade que faz com que o ritual tenha sentido.”
“Não é muito complicado tudo isso?”
“É muito mais complicado fazer sexo como o vemos ser feito hoje, um simples ato mecânico, que provoca tensão durante o ato e um vazio no final. Tudo o que é espiritual se manifesta de forma visível, tudo que é visível se transforma em energia espiritual, não creio que seja complicado entender isso. Afinal, já nascemos sabendo que possuímos um corpo e uma alma: porque não entender que o sexo também as possui?”

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