terça-feira, 4 de maio de 2010



04 de maio de 2010 | N° 16325
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Sonhos e desejos

Leio que as portas austeras do Victoria and Albert Museum, em Londres, acabam de dar passagem para uma exposição de roupas, acessórios e fotos de Grace Kelly. Nenhum outro tema poderia ser mais belo. O visual clássico, etéreo e loiro da mais linda das princesas de Mônaco há muito reina soberano em milhões de corações do mundo inteiro.

Nunca esqueço a tarde de setembro de 1982 em que, ao atravessar a Kürfürstendam – eu estudava Jornalismo Avançado em Berlim – dei com a manchete de página inteira do Bild: Morreu Grace Kelly. Era como se a curta frase, em enormes letras negras, ao lado da grande foto, dissesse respeito a alguém muito próximo de mim.

Me explico melhor. Quando a oscarizada atriz de Hollywood casou com o príncipe Rainier em 1956, todos nós que a amávamos em segredo – aí incluído eu, que tinha 11 anos – ficamos um pouco viúvos.

O Cruzeiro e Manchete – então as principais revistas que circulavam no Brasil – reservavam dezenas de páginas para as bodas em Mônaco, torrentes de parágrafos eram dedicados à biografia da noiva, rios de tinta descreviam as cerimônias, mas cada letra e imagem parecia apenas dizer que a tínhamos perdido para sempre.

Não foi bem assim. Com extraordinária classe e porte, a Princesa Grace desempenhou o melhor papel de sua carreira.

Já não era mais a esplêndida atriz de Janela Indiscreta (Rear Window), dirigida pelo mestre Alfred Hitchcock.

Era a alteza, a esposa e a mãe. Não me surpreende que o Victoria and Albert Museum esteja revisitando agora seus vestidos. Durante décadas, Grace Kelly foi trajada por todos os maiores costureiros da Europa. Mais do que isso – pois um manequim não faz um vestido –, foi um sinônimo de elegância no agir e no viver.

Sua vida no paradisíaco principado, com cujas paisagens e atmosfera me encantei mais de uma vez, foi a senha de uma era de charme, de glamour e de encantamento.

Dizem que teve affairs, antes e depois de se transformar em soberana de Mônaco. São hipóteses maltraçadas, simples suposições, caprichosos exercícios de imaginação. Mas se os teve, isso confirma apenas que viveu segundo sua circunstância e sua época. Longe de ser uma deusa enigmática como a pintaram, era uma mulher com sonhos e desejos.

Linda terça-feira ainda que com chuva. Aproveite o dia.

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