quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010


CARLOS HEITOR CONY

Bandeira branca

RIO DE JANEIRO - O Carnaval está chegando e, com ele, aquela trégua provisória em nosso cotidiano, mesmo para aqueles que esnobam ou detestam o que por aí chamam de "folia".

A vantagem destes últimos é que não precisam fazer nada a não ser deixar o Carnaval passar. E ele passa, inexoravelmente passa, como passam todas as coisas boas e más do mundo, até mesmo as mais ou menos.

Não é preciso fantasia ou atavio outro para entrar no clima e aproveitar o "stand by" que ele nos traz. Governo parado, Congresso em recesso, bancos fechados, não há possibilidade de cobranças e pagamentos. Os compromissos podem esperar, a não ser os que estão comprometidos com o amor ou a morte.

Não é obrigatório sair por aí, pulando ou dançando. Se fosse, seria bem pior. Em criança, cismaram de me fantasiar de chinês. O estrago foi enorme aqui dentro. Até hoje justifico todos os meus fracassos e faltas (graves ou leves) pelos três dias em que me vestiram de chinês, com bigode de rolha queimada na cara e um chapéu cônico em que meu irmão urinou dentro. Resistir, quem há de?

Ver os outros pular e dançar, além de um prazer visual, é a pausa anual nos dias cheios de violência, corrupção, enchentes, engarrafamentos. Neste particular, "evviva" Momo.

Os saudosistas garantem que os carnavais antigos eram melhores, talvez porque, acima da alegria, pairava um toque dramático em tudo. Não sei não. Havia certa melancolia nas músicas, arlequins chorando pelo amor das colombinas, tristeza, por favor vá embora, bandeira branca, amor, não posso mais.

Um primo meu, cujo apelido era Zuth, tinha bom gosto e dinheiro. Mandou fazer um pierrô suntuoso, de lamê prateado com pompons grená. Usou-o em vários carnavais. No último, pediu que fosse enterrado com ele.

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