sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010



26 de fevereiro de 2010 | N° 16258
DAVID COIMBRA


Pela extinção da EPTC

Nada pessoal. Penso que a EPTC deva ser extinta, mas não sou contra a empresa, nem desgosto dos azuizinhos, embora conheça gente com ganas de um dia transformar um azulzinho numa pasta de carne e sangue rojada ao meio-fio. Eu não.

Sempre fui bem tratado por azuizinhos nos raros contatos que tive com eles. Até esbarrei em alguns tolerantes – a tolerância, você sabe, é a virtude dos sensatos, dos bem-humorados. Em outra palavra, dos inteligentes.

Logo, os tolerantes azuizinhos com que deparei devem ser bem fornidos desses predicados, o que talvez até seja fruto de algum incentivo oficial da empresa, curso, recomendação, sei lá.

Ponto para a empresa.

Mas ela deveria ser extinta.

Ou muito reduzida.

Uma das razões é o fato de a EPTC ser uma experiência frustrada. Poderia ter dado certo, não deu. Porque o porto-alegrense não gosta da atuação da EPTC. Claro, haverá quem goste: os milhares de funcionários da empresa, seus amigos, seus parentes, talvez até um ou outro cidadão isento.

Mas, pela minha avaliação empírica, epidérmica, subjetiva e eminentemente pessoal, a maioria da população não gosta. Ao menos não gostam as pessoas com quem falo, que nem são tão poucas.

Só que, como disse, trata-se de uma avaliação empírica, epidérmica, subjetiva e eminentemente pessoal. Nenhum desses adjetivos se aplica ao segundo motivo pelo qual a EPTC deve ser extinta como fosse o pássaro dodô. Um motivo relevante.

A segurança pública.

Antes de 1998, não havia EPTC. A fiscalização do trânsito cabia à Brigada Militar. Óbvio: a EPTC tem outras funções, mas elas podem ser exercidas por uma secretaria. Atenho-me à fiscalização.

A Brigada Militar não queria exercer esse trabalho. Quando lhe foi suprimido, a Brigada festejou: em tese, restaria mais tempo e mais pessoal para as atividades de segurança pública propriamente ditas: a repressão, o combate ao crime.

Não foi o que aconteceu. Sem a exigência de controlar o trânsito, a presença da Brigada nas ruas tornou-se rarefeita. Sente ao volante do seu carro e saia pela cidade. Você vai cruzar por viaturas de azuizinhos em ruas vicinais e avenidas, vai se espantar com azuizinhos de campana atrás de árvores e debaixo dos viadutos, vai ver azuizinhos espreitando carros estacionados sem permissão na área azul. Todos esses azuizinhos você encontrará; não encontrará nenhum brigadiano.

Imagine agora que, em vez de mil azuizinhos, Porto Alegre dispusesse de mil brigadianos controlando o trânsito. Que, em vez das viaturas da EPTC, rodassem pela cidade viaturas da Brigada.

É a segurança ostensiva, tanto reivindicada pela população.

E que funciona, está provado.

Por que não repassar os recursos da EPTC à Brigada, num convênio entre a prefeitura e o Estado? Por que não treinar os brigadianos para o controle do trânsito? Sob o ponto de vista legal, é possível. Sob o ponto de vista da funcionalidade, factível. Sob o ponto de vista da sensatez, recomendável.

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