sábado, 20 de fevereiro de 2010



21 de fevereiro de 2010 | N° 16253
PAULO SANT’ANA


Turismo da eutanásia

Como sou interessado por eutanásia, sempre que surge no mundo uma ocorrência relacionada com ela, fico atento.

Agora um caso espetacular vem reacender o incessante debate sobre a eutanásia: na Inglaterra, um jornalista confessou que matou seu ex-companheiro sexual, vítima de aids, porque ele não suportava mais as dores da doença.

Por isso é que se chama a eutanásia de “morte piedosa”. Neste caso, o que impressiona é que o jornalista que asfixiou seu parceiro sexual não era suspeito do homicídio, resolveu confessar a eutanásia num programa de televisão e foi imediatamente preso.

Ray Gosling, de 70 anos, declarou que seu companheiro havia traçado consigo um pacto: se as dores da aids se tornassem terríveis e insuportáveis, ele o mataria por asfixia. E foi o que fez.

“Os médicos haviam dito que ele enfrentaria dores terríveis e que eles nada poderiam fazer. Peguei o travesseiro e o asfixiei até a morte”, relatou Gosling.

Ele prometeu que não diria o nome de seu ex-companheiro nem quando a morte ocorreu, cabe agora à polícia elucidar o caso.

Uma outra declaração de impacto do autor da morte: “Quando se ama alguém, é duro ver a pessoa sofrer”. E não revelou nenhum remorso pela eutanásia.

Na Inglaterra, a eutanásia não é permitida e a pena de prisão por sua autoria é de 14 anos.

Por isso mesmo é que existe uma corrida de pacientes ingleses e seus familiares para a Suíça, onde a eutanásia é permitida e os familiares dos pacientes não são condenados quando instam pela morte provocada em clínicas especializadas.

Só em 2009, 120 britânicos procuraram a Clínica Dignitas, em Zurich, Suíça, especializada em mortes assistidas, o que vem sendo chamado de “turismo de eutanásia”.

Não me envergonho em dizer que sou a favor da eutanásia.

Comove-me até o desespero assistir ao sofrimento de alguém condenado a morrer, sem qualquer chance de sobrevivência, às vezes jungido a tormentos cruciais durante anos seguidos, apenas porque a lei impede que se abrevie por meios artificiais a sua existência.

E como se vê neste caso narrado acima, a lei que impede a morte piedosa é apenas uma questão de territorialidade, um país admite a eutanásia, outro a criminaliza.

Então no caso de que o paciente, impedido de cometer suicídio pela sua imobilidade, consente que o matem (ou até mesmo implora por isso), aí sou mais ainda a favor.

Não sei como o Brasil ainda não admite a eutanásia nesses casos.

“Medicare” em latim não quer dizer curar, quer dizer “tirar a dor”. E quando se torna impossível curar, urge tirar a dor.

Como pode então a medicina permitir a dor em casos de permanente aflição e nos quais não há mais qualquer possibilidade de sobrevivência do paciente? Como pode?

Não tenho dúvida, embora o debate seja instigante, que a eutanásia consiste numa atitude cristã.

Não há nada mais cristão que a piedade.

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