segunda-feira, 1 de julho de 2019



Cinco anos depois, sete vexames internacionais piores do que o 7x1

De tráfico de drogas a pitos de líderes mundiais, sete fatos da semana que constrangeram os brasileiros diante do mundo

01/07/2019 - 06h00min - Atualizada em 01/07/2019 - 06h00min
Claudia Laitano

Marten van Dijl / Greenpeace
"Quando agimos de forma inconsequente com relação à Amazônia estamos falando de estragos que podem ser irreversíveis e ter efeitos globais"

Ouvi, mas não vi, o Brasil ser goleado pela Alemanha naquele 8 de julho de 2014. Estava em casa, me ocupando de qualquer coisa que acontecia longe de uma televisão ligada, quando o ensurdecedor silêncio da torcida entrou pela janela. Não era o impacto de uma derrota comum, logo vi, mas o torpor diante de uma humilhação de proporções mitológicas.

Narrativas míticas sobrevivem porque dão forma a nossos medos mais profundos. Nesse sentido, o 7x1 renovou e ampliou a mitologia do "complexo de vira-latas" – expressão criada por Nelson Rodrigues depois da derrota de 1950 no Maracanã. Uma coisa é se sentir meio cusco na vida (quem nunca), outra é ver seu focinho desenxabido estampado em todos os jornais do mundo.


Não há sensação mais aderente às nossas fantasias de inferioridade do que a ideia de sermos publicamente flagrados em nossa incompetência ou pretensão. Minha estratégia para enfrentar situações potencialmente humilhantes sempre foi a de tentar me convencer de que ninguém está tão interessado no meu fracasso quanto eu mesma. Um erro, um deslize, uma fraqueza de caráter, falhas capazes de me cobrir de vergonha e constrangimento, em geral têm bem menos importância para os outros. Foi como elaborei o 7x1: amanhã, ninguém lembra mais. Além do mais, é só futebol, e ao menos no futebol nada é definitivo – nem as glórias, nem os vexames.

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Na semana passada, voltamos a ser o cusco do mundo, e não por motivos esportivos. O Brasil de verdade, aquele que também ganha uma chance de redenção a cada quatro anos, amargou sete vexames de repercussão internacional, um para cada gol feito pela Alemanha. 

1) Na Espanha, um militar que viajava no avião da FAB que acompanhava o presidente Bolsonaro foi preso com 39 quilos de cocaína. 

2) Nos EUA, novas orientações da diplomacia brasileira, alinhadas aos países mais retrógrados do mundo, causaram constrangimento na ONU entre os civilizados. 

3) Na Alemanha, o Brasil levou um pito da chanceler Angela Merkel. 

4) No Japão, Emmanuel Macron disse que a França não vai assinar nenhum acordo comercial conosco caso o presidente Bolsonaro saia do acordo climático de Paris. 

5) Na Holanda, um dos pontos turísticos mais importantes de Amsterdã virou um gigantesco apelo pela proteção da Amazônia. 

6) Em Brasília, uma comissão especial da Câmara derrubou restrições à aprovação e uso de agrotóxicos, incluindo os mais perigosos, banidos na maior parte dos países. 

7) Ainda no Japão, o ministro Augusto Heleno (do Gabinete de Segurança Institucional) mandou os países que criticam a nova (falta de) política ambiental do Brasil "procurarem sua turma".

Na origem desse emaranhado de vexames, misturam-se ideologia, incompetência, desinformação, má-fé. Cada um desses atributos deve causar danos de maior ou menor impacto em diferentes setores do país nos próximos anos, mas quando agimos de forma inconsequente com relação à Amazônia estamos falando de estragos que podem ser irreversíveis e ter efeitos globais. Nesse caso, não se trata mais de uma competição entre países para ver quem é o melhor. Somos todos do mesmo time, e a bola está conosco. Para sermos vira-latas, ou não.

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