quarta-feira, 6 de março de 2019


06 DE MARÇO DE 2019
NÍLSON SOUZA

Maiorias

Como não acreditar nos brasileiros?


Veja-se o trânsito, por exemplo. É ali que o caráter das pessoas se revela. Impacientes, intolerantes e infratores, motoristas ultrapassam os limites de velocidade, dirigem pelo acostamento onde não é permitido, fazem manobras irregulares e tentam empurrar o carro da frente a buzinaços. Quantos fazem isso? Muitos. Mas a maioria, a imensa maioria dos milhões de condutores que trafegam pelas estradas diariamente, ou num feriado como esse do Carnaval, cumpre as regras de trânsito. Mais do que isso: essa maioria vai e volta sem se envolver em acidentes. Ainda que pareça milagre, dadas a quantidade incalculável de veículos em circulação e as insanidades cometidas por alguns, prefiro pensar que existe uma maioria de motoristas habilidosos e conscientes.

Outro exemplo: criminalidade. É um perigo viver no Brasil. Ninguém sai de casa sossegado, ninguém fica em casa sossegado. O crime organizado - e o desorganizado também - comanda as (más) ações, a polícia não dá conta de reprimir os criminosos, os presídios estão superlotados e a droga rola solta em todos os segmentos da sociedade. A vontade de fugir para o Exterior é tanta, que todo dia tem um jovem brasileiro investigando a árvore genealógica da família para ver se consegue dupla cidadania em algum país mais civilizado e ordeiro. Mesmo nesse cenário desesperador, a maioria dos brasileiros, a imensa maioria se isso não for uma redundância, trabalha, estuda e obedece às leis - como comprovam estatísticas e censos oficiais.

E a corrupção? Agora, dirão os críticos que já se preparam para me acusar de polianismo, quero ver você dizer que a maioria dos brasileiros escaparia da Lava-Jato se os juízes inflexíveis não virassem ministros flexíveis. É verdade: do pecado original, acho que ninguém escapa. Nem neozelandeses e dinamarqueses, que ocupam os primeiros lugares no ranking dos menos corruptos da Transparência Internacional. Mas (para ficarmos com a visão do catolicismo) há uma distância considerável entre o pecado venial (a maioria que comete pequenos deslizes éticos) e o pecado mortal (uma minoria que rouba e suborna). Difícil mesmo é estabelecer o limite. Caixa 2, por exemplo. Com a devida vênia, Excelência, creio que continua sendo pecado mortal.

Para terminar estas reflexões pouco filosóficas de Quarta-Feira de Cinzas, redes sociais. É a maioria ou a minoria que agride, destila ódio e planta notícias falsas? Se você não é usuário, está entre a minoria de brasileiros que nem sequer pode ser avaliada. Se você usa redes sociais, faz parte de uma maioria conectada (mais de 60% da população). Basta, então, que observe nos seus grupos de amigos se é a maioria ou a minoria que tem comportamento antissocial. Se for a maioria, talvez seja hora de escolher outros amigos.

Não é tão difícil assim. Muitos brasileiros - certamente a incomensurável maioria - lutam para que o país se torne mais íntegro, digno e próspero. Acredite neles.

NÍLSON SOUZA

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