04 DE DEZEMBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
CONDIÇÕES PARA O EMPREGO
Estabelecer um ambiente de confiança, no qual o setor público não trabalhe para sufocar o privado, mas que ajude a destravar investimentos, é a chave para a estabilidade
A curva do desemprego só vai apontar significativamente para baixo quando houver a combinação de dois fatores simultâneos: a retomadado crescimento nacional e dos investimentos no Rio Grande do Sul, a partir do aumento da confiança do empresariado. De uma forma geral, os atuais e futuros governos estão fazendo a lição de casa, a começar pela crença na responsabilidade fiscal como a base para a volta da confiança. Sem as contas ajustadas, o risco de instabilidade se mantém, afugentando investidores.
É lamentável que uma realidade tão cristalina - contas em ordem como base para atração de investidores - não comova corporações que insistem em aprofundar a crise do Estado com reivindicações e benefícios sem fim. O abismo entre alguns setores públicos à margem da crise e o trágico desemprego na iniciativa privada se aprofunda celeremente, sem perspectivas de reversão que não seja por meio de reformas profundas. Como demonstrou reportagem publicada ontem em Zero Hora, só no Estado, havia 487 mil desempregados no terceiro trimestre. Desse total, 90 mil estavam à procura de ocupação por pelo menos dois anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A esta altura dos acontecimentos, depois de o governo gaúcho ter demonstrado que o Estado foi à bancarrota, caberia à Assembleia Legislativa capitanear as mudanças. Infelizmente, o parlamento trava cada vez que algum setor já privilegiado alega ter algum interesse ferido. Os lobbies que impedem avanços para se ajustar as contas no Estado também se estendem ao plano nacional. O desejo de mudança a partir de Brasília, porém, foi tão intenso, que pode surgir agora a chance de uma reforma da Previdência e do setor público que abranja também Estados e prefeituras.
Não se pode admitir mais sacrifícios sobre duas áreas já oneradas - trabalhadores e empresas privadas. Enquanto o serviço público tem sua estabilidade e aposentadorias integrais garantidas. Como lembrou a secretária-executiva do Ministério da Fazenda, Ana Paula Vescovi, em entrevista ao Gaúcha Atualidade na semana passada, é normal que servidores públicos tenham uma remuneração um pouco acima da dos trabalhadores do setor privado e que a estabilidade seja uma vacina contra demissões políticas. O que se vê no Brasil, porém, são salários duas ou três vezes maiores do que os do setor privado e casos de ineficiência e desperdício protegidos pelo manto da estabilidade.
As reformas são um primeiro passo. Depois, é preciso colocar em prática as promessas de desburocratização, simplificação de impostos e despartidarização da fiscalização, que, no fundo, ajudarão a combater o trabalho informal e a sonegação. Estabelecer um ambiente de confiança, no qual o setor público não trabalhe para sufocar o privado, mas que ajude a destravar investimentos, é a chave para a estabilidade, ponto inicial da recuperação econômica e da tão desejada redução do desemprego.
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