terça-feira, 4 de dezembro de 2018



04 DE DEZEMBRO DE 2018
ECONOMIA

Natal com presentes, sem dívidas

INADIMPLÊNCIA EM PATAMAR ELEVADO leva consumidores a adotarem cautela e priorizarem compras à vista em dinheiro

A inadimplência ainda é alta e as cicatrizes deixadas pela crise econômica devem levar os gaúchos a terem mais cautela nas compras de Natal. De acordo com levantamento mais recente da Serasa Experian, 3,07 milhões de consumidores do Rio Grande do Sul - um a cada 3,7 habitantes - estavam com o nome sujo em setembro, com restrições para tomar empréstimos ou abrir crediário.

O aperto no bolso repete números nacionais: são 61,4 milhões de inadimplentes em todo país inscritos na Serasa. No cadastro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), havia 62,9 milhões de brasileiros em outubro. E, à revelia da melhora na economia, os números teimam em subir: após um bimestre de queda, a quantidade de negativados no SPC cresceu 0,1% em setembro e 0,8% em outubro.

- A recuperação da economia é lenta e muita gente continua sem emprego. Isso atrapalha a organização do orçamento e adia o acerto das contas - explica Flávio Borges, superintendente de finanças do SPC Brasil.

Pesquisas de entidades lojistas sugerem uma preocupação de clientes em evitar novas dívidas e um distanciamento do crédito neste Natal. Levantamento do Sindilojas Porto Alegre mostra que 59,5% dos consumidores pretendem pagar em dinheiro suas compras de final de ano (no ano passado eram 53,8%) enquanto 34% irão parcelar no cartão de crédito e apenas 6,7% usarão crediário ou cartão de loja.

- O consumidor está preferindo usar algum dinheiro que tinha guardado do que criar novas contas que pesem no orçamento - analisa Paulo Kruse, presidente do Sindilojas da Capital.

MELHOR DO QUE 2017, MAS SEM EXUBERÂNCIA

Na avaliação de economistas, os números sinalizam que uma lição foi aprendida: o excesso de compras a prazo leva ao endividamento, e daí para a inadimplência basta um descuido.

- O consumidor ainda está cauteloso, a memória da crise está bem viva. Existe predisposição em adotar postura comedida nas compras, com mais pesquisa e preocupação com gastos excessivos - avalia a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.

Entretanto, alerta a especialista, sinais de otimismo começam a ser percebidos. A sensação de que o pior da crise ficou para trás e o fim das eleições, com definição de quem serão os governantes, são elementos que podem fazer, gradativamente, as pes- soas consumirem mais. O avanço da criação de empregos - foram geradas 31,5 mil vagas no Estado entre janeiro e outubro, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - e o barateamento do juro bancário reforçam o brilho da luz no fim do túnel.

Sinal deste alívio é a pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) que mede a confiança do consumidor com a economia, que em novembro teve o maior índice desde julho de 2014. Longe de ser mera estatística, esse dado mostra até que ponto as pessoas estão confortáveis para gastar com lazer e deixar de guardar dinheiro para fazer compras, por exemplo. Pesquisa do SPC Brasil mostrou que 72% dos brasileiros devem fazer compras para o Natal, sendo que 23% pretendem usar o 13º salário como reforço para os presentes.

- A melhora na renda, na confiança e no crédito corrobora com a expectativa de um Natal melhor que o de 2017, mas sem exuberâncias - projeta Oscar Frank, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre.

ERIK FARINA

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